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X-Men: Apocalipse (X-Men: Apocalypse, 2016)

Em meio a uma enxurrada de filmes de heróis que chegam aos cinemas todo verão americano, os da franquia X-Men costumam se destacar por trazerem ao gênero subtextos que o tornam mais interessante. Com tramas que remetem à luta pelos direitos civis, temos papéis que não são necessariamente de heróis e vilões, mas sim de pessoas com abordagens diferentes para um mesmo problema: a discriminação contra os mutantes. Dessa forma, Xavier (James McAvoy) seria o representante da vertente pacifista por vias legais e Magneto (Michael Fassbender) da luta armada, e Mística (Jennifer Lawrence) divide-se entre as duas possibilidades e o afeto que tem pelo dois. Mas o terceiro filme da nova trilogia abandonou completamente o tom político.

Dessa vez a narrativa se passa no começo da década de 1980. O vilão é Apocalipse (Oscar Isaac), uma entidade com poderes praticamente ilimitados, pois consegue absorver aqueles dos demais. Considerado o primeiro mutante da história, Apocalipse já era adorado como divindade no Egito Antigo, onde permaneceu enterrado até ser liberado novamente. Acompanhado de seus Quatro Cavaleiros, Tempestade (Alexandra Shipp), Psylocke (Olivia Munn), Anjo (Ben Hardy) e o próprio Magneto, planeja, como todo vilão padrão, dominar o mundo.

Por outro lado, a Escola Xavier para Jovens Superdotados está estabelecida e com ela temos uma gama de novos alunos para integrar o elenco, incluindo Jean Grey (Sophie Turner), Ciclope (Tye Sheridan), Destrutor (Lucas Till) e Jubilee (Lana Condor). A dinâmica entre a nova turma é ótima e com isso se garante que, em possíveis filmes futuros, a transição de elenco possa ser feita de maneira adequada.

Como se pode perceber, o elenco desse filme é imenso e por isso nem todos são aproveitados como poderiam ser. Sem a questão política como plano de fundo, mas com uma divindade como vilão, o filme desperdiça também a oportunidade de debater questões religiosas mais a fundo. Magneto, por exemplo, vive afastado de todos com sua esposa e filha, que são mortas por forças policiais. O clichê da mulher na geladeira, que demonstra preguiça no tratamento do roteiro, é utilizado para motivar o personagem, que se une ao grupo de Apocalipse. Em determinado momento ele olha para o céu e grita “É isso que você quer?”, questionando um deus que nada lhe responde, indiferente. A religião do personagem, o judaísmo, é intrinsecamente conectada à sua trajetória, que passa por um campo de concentração alemão na II Guerra Mundial. Noturno (Kodi Smit-McPhee), cujo catolicismo também marca sua caracterização, também não é explorado nesse sentido. Apocalipse, por sua vez, ao despertar revela ter sido chamado de Rá, mas também de Pushan (divindade solar hindu) e Elohim (um dos termos utilizados para se referir a Javé, deus judaico-cristão, no Antigo Testamento). Não deixa de ser estranho, já ele foi enterrado antes dessas religiões terem se estabelecido. De qualquer maneira, o que poderia ser uma abordagem que trouxesse à tona as crenças dos personagens limita-se a esse breve verniz mitológico.

Outro problema do filme é a passagem de tempo: são vinte anos entre ele e X-Men: Primeira Classe, mas os atores pouco ou nada envelheceram nessas décadas. Magneto, que presenciou, como já mencionado, a II Guerra Mundial, deveria ter em torno de 50 anos. Mercúrio, que era um jovem em Dias de um Futuro Esquecido, dez anos antes, segue sem mudar de aparência. Poderia citar um a um os atores que participaram da trilogia, porque o problema é generalizado.

Por fim, Oscar Isaac foi desperdiçado em um vilão desinteressante, escondido atrás de uma maquiagem de qualidade duvidosa. Sem motivações fortes, seu plano maligno de dominação é genérico e culmina em uma batalha anticlimática, em que tudo se resolve fácil demais ante a ameaça que ele parecia oferecer.

Por outro lado, a direção de arte do filme, como nos anteriores, é competente e a recriação da década, especialmente através das roupas, é muito bem realizada. Além disso, Sophie Turner e Alexandra Shipp se mostraram ótimos acréscimos ao elenco.

Esse foi o quarto filme da franquia X-Men dirigido por Bryan Singer, o segundo na atual trilogia e o mais fraco dentre eles. Em uma cena os mutantes adolescentes saem do cinema, onde assistiram a O Retorno de Jedi um deles desfere um comentário afirmando que “o terceiro filme é sempre o pior”. Synger provavelmente não se deu conta de que isso poderia se referir a sua própria obra. De toda forma, o carisma dos personagens e a empatia que sentimos por eles ajudam a sustentar a carregar o expectador pela trama que nem sempre entrega todo o seu potencial.

3estrelas

x-men apocalypse

P.S. Hugh Jackman faz uma breve participação, que além de desnecessária demonstra o desgasto de Wolverine enquanto personagem na franquia.

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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