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[48ª Mostra de São Paulo] Apocalipse nos Trópicos

Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui.

Apocalipse nos Trópicos (Brasil, 2024, Documentário, cor | p&b, 110 min)

Direção: Petra Costa

Sinopse: Quando uma democracia termina e uma teocracia começa? O filme investiga o crescente controle exercido por lideranças evangélicas sobre a política brasileira. A diretora obtém acesso aos principais líderes políticos do país, incluindo o presidente Lula e o ex-presidente Bolsonaro, bem como um dos pastores mais famosos do Brasil —uma figura proeminente que parece manipular certos mandatários como fantoches. Aos poucos, observamos o papel crucial que setores fundamentalistas desempenharam na política nacional recente, revelando a teologia apocalíptica que impulsiona esses protagonistas.

Comentário: Ao término, a primeira coisa que cruzou minha mente foi: como a Petra montou esse filme? A escala é ambiciosa: são 8 anos de filmagens, entre imagens captadas especialmente para o documentário e aquelas disponibilizadas por terceiros nas redes sociais. Manter essa linha do tempo e ao mesmo tempo amarrar sua tese parece um exercício hercúleo de orquestração de diversas frentes.

Petra fala de colonialismo, de dinâmicas de poder,  de articulações, de discursos. Para além de todo o cenário da extrema direita que se ampliou no Brasil nos últimos anos, ela compartilha suas reflexões e percepções sobre como a religião, especialmente os evangélicos, se encaixam nesse contexto. Ela revela seu desconhecimento sobre o tema e narra a busca por explicações. Se Jesus é amor, conforme se diz, porque parte de seus seguidores apoiam e reproduzem os discursos mais odiosos? E o que isso tem a ver a política dos últimos anos?

Como os seus documentários anteriores, trata-se de sua jornada pessoal pelo tema, então não espere explicações antropológicas. É admirável o acesso que ela consegue também, de tomar café com Lula a viajar de jatinho com Malafaia, passando por manifestações e eventos públicos. A qualidade das imagens e a forma como são acionadas impressiona. A complexidade e a amplitude do tema faz com que, claro, nem tudo seja aprofundado ou totalmente amarrado no final. Ainda assim, é um exercício digno de admiração a sua tentativa de trazer entendimento sobre diversas questões políticas recentes.

Afinal, Apocalipse, diz ela, não quer dizer fim do mundo, quer dizer revelação. Mas as respostas ainda estão em processo de construção, porque, como no seu documentário anterior, essa é uma busca por retratar eventos que ainda não estão finalizados.

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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