Críticas e indicações
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Viver Até o Fim (The Living End, 1992)
Publicado originalmente em 05/06 na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir com o projeto, assine aqui. Na abertura, os créditos avisam que esse é “um filme irresponsável por Gregg Araki”. Então não espere um romance convencional, ou uma história de superação ou uma jornada motivacional. Viver Até o Fim (The Living End, 1992) faz parte do grupo de filmes que levou a crítica de cinema Ruby Rich a definir o que ela veio a chamar de New Queer Cinema, um movimento que fala de vivências LGBTQIA+ usando de uma estética do pastiche e da ironia, ressignificando imagens e histórias. Araki constrói sua narrativa num momento central para a história…
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A Hora do Mal (Weapons, 2025)
Em 2022, Zach Cregger lançava um filme de terror que já chegou fazendo barulho. Noites Brutais começava com uma trama entre o thriller e a comédia romântica, só para depois mudar radicalmente a perspectiva e o tom. A fórmula de criar rupturas na narrativa, conectando diferentes pontos de vista a um mesmo acontecimento bizarro, é repetida no lançamento mais silencioso do cineasta. A Hora do Mal, que também repete a tradição de uma mudança curiosa na tradução do título minimalista em inglês para um mais explícito em português, chegou aos cinemas neste ano sem muita expectativa do estúdio e foi ganhando o público sem fazer grandes alardes. Se já faz…
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Amores Materialistas (Materialists, 2025)
Celine Song trabalhou alguns anos como dramaturga antes de fazer sua estreia no cinema, no duplo papel de roteirista e diretora com Vidas Passadas (Past Lives, 2023). Baseado parcialmente em suas próprias experiências, ele relata a história de uma escritora coreano-estadunidense que, na sua primeira infância na Coreia do Sul, havia sido prometida em casamento para um amiguinho. Quando seus pais se mudam para os Estados Unidos, eles perdem contato. Mas ele reaparece anos depois, quando ela já está casada com um colega de profissão (na vida real o também roteirista Justin Kuritzkes). Trata-se de um filme lindíssimo sobre decisões maduras e escolhas diárias que fazem todo relacionamento, a complexidade…
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Ontem, Hoje e Amanhã (Ieri, oggi, domani, 1963)
Publicado originalmente em 05/06 na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir com o projeto, assine aqui. Semana passada assisti a Ontem, Hoje e Amanhã (Ieri, oggi, domani, 1963), de Vittorio De Sica. Para quem, como eu, tem contato anterior com o diretor pelos dramas como Ladrões de Bicicleta (Ladri di biciclette, 1948) e Umbert D. (1952), o filme é uma grata surpresa. São três historietas, todas protagonizadas por Sofia Loren e Marcello Mastroianni, retratando diferentes relacionamentos. Na primeira delas, com roteiro de Eduardo De Filippo e Isabella Quarantotti, eles interpretam Adelina e Carmine, um casal no pós-guerra que adquire móveis, mas não consegue arcar com a dívida. Como eles foram obtidos no nome…
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Ponto Oculto (Im toten Winkel, 2025)
Como a câmera conta uma história? Pode parecer uma reflexão bastante óbvia, pensando puramente na funcionalidade técnica do aparelho, de captar e registrar os acontecimentos encenados ou não. No entanto, Ayşe Polat propõe com Ponto Oculto mais uma análise de como o equipamento pode ser usado para manipular a linguagem. A primeira parte do longa, que é dividido em capítulos, serve como uma introdução, visto que os outros dois blocos conversam mais diretamente um com o outro. Neste início, a obra apresenta suas perspectivas e como se diferenciam, sem que ainda compreenda-se bem seus papeis narrativos. Essa relação vai se tornando mais clara conforme a história se desenrola, mas a…
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Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado (2025)
Que Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado nasceu nos anos 90 pegando carona com o sucesso e as ideias de Pânico, todo mundo já sabe. Talvez só não fosse tão fácil prever que a franquia seguiria a mesma onda a vida inteira. Até que demorou, mas três anos depois de reviverem a franquia de Wes Craven, agora sem o ícone e sua genialidade, a prima com menos talento fez o mesmo. O histórico das duas é totalmente diferente, enquanto Eu Sei… teve uma sequência bem esquisita, com uma recepção à altura, e um terceiro capítulo quase bastardo na família, lançado direto em DVD e sem o elenco…
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Filhos do Mangue (2024)
Existe um filme (ainda) mais complexo e mais profundo que não está expresso no resultado final de Filhos do Mangue. O que não é dizer que não seja um filme com suas próprias complexidades e belezas e a direção experiente de Eliane Caffé sempre garante o interesse ao olhar. Mas ele parece algo em processo, o que é afetado pelas expectativas. Escrito pela própria diretora em parceria com seu roteirista parceiro de longa data, Luis Alberto de Abreu, é livremente inspirado no livro Capitão, de Sérgio Prado. Quando a a trama começa, vemos Pedro Chão, personagem interpretado por Felipe Camargo, rodeado por outras pessoas que o questionam sobre um valor…
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O Brilho do Diamante Secreto (Reflet dans un diamant mort, 2025)
Ainda em 2016, em nosso primeiro podcast Especial de Dia das Bruxas, conversamos sobre o belo, estranho e às vezes um pouco frustrante A Estranha Cor das Lágrimas de seu Corpo (L’étrange couleur des larmes de ton corps, 2013), uma homenagem ao cinema giallo. Com O Brilho do Diamante Secreto o casal de cineastas franceses radicados na Bélgica Hélène Cattet e Bruno Forzani retornam à essa inspiração setentista, dessa vez somando a ela também os filmes de espião. Qualquer semelhança com James Bond e seus derivados não é mera coincidência. No começo do filme somos apresentados a John D. (Fabio Testi e em sua versão mais jovem interpretado por Yannick…
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Extermínio (28 Days Later, 2002) e Extermínio 2 (28 Weeks Later, 2007)
Publicado originalmente em 05/06 na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir com o projeto, assine aqui. Antes de ver o novo Extermínio: A Evolução (sobre o qual Raíssa escreveu aqui), revi os dois anteriores com resultados mistos. Eu nem sei dizer quantas vezes já vi o primeiro Extermínio (28 Days Later, 2002). No letterboxd eu o loguei em 6 de setembro de 2013 e em 27 de agosto de 2014, indicando que já eram revisões e certamente já tinha visto pelo menos umas duas ou três vezes antes. Achei curioso que eu revi nesse espaço de menos de um ano, algo que eu não costumo…
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Magic Farm (2025)
Já falei o quanto me fascina ver o vazio millennial representado no cinema. Não porque me sinto em posição de superioridade, mas pelo espelho que essas histórias colocam. É bom esbarrar na própria mediocridade, né? Esse foi um tema que comentei na crítica de On a String, filme de Isabel Hagen que passou no Festival de Tribeca. Agora, com o lançamento recente de Magic Farm, da diretora e roteirista argentina Amalia Ulman, esse tema surge novamente, mas em uma lente mais absurda e colorida. A exposição dos millennials (liderados por uma it girl da geração Z que é vivida pela pessoa que melhor carrega este título, Chloe Sevigny) estadunidenses que…