Filmes
-
Corpo, sexo e máquina
“Fisiologicamente, no uso normal da tecnologia (ou seja, de seu corpo em extensão vária), o homem é perpetuamente modificado por ela, mas em compensação sempre encontra novos meios de modificá-la. É como se o homem se tornasse o órgão sexual do mundo da máquina, como a abelha do mundo das plantas, fecundando-o e permitindo o evolver de formas sempre novas. O mundo da máquina corresponde ao amor do homem atendendo a suas vontades e desejos, ou seja, provendo-o de riqueza. Um dos méritos da pesquisa motivacional foi o da revelação da relação entre o Sexo e o carro”MCLUHAN, Marshall. Os Meios de Comunicação Como Extensão do Homem Filmes: Crash –…
-
Metropolis
“A montagem de olhos masculinos olhando para a falsa Maria quando ela sai de seu caldeirão e começa a se despir, ilustra como o olhar masculino de fato constitui o corpo feminino na tela. É como se estivéssemos presenciando a segunda criação pública do robô, sua carne, pele e corpo não apenas sendo revelados, mas constituídos pelo desejo da visão masculina” HUYSSEN, Andreas. The Vamp and the Machine: Technology and Sexuality in Fritz Lang’s Metropolis, tradução minha.
-
Retrato de uma Jovem em Chamas e Teresa de Lauretis
Heloïse: Quando você me olha, quem você acha que eu estou olhando?Retrato de uma Jovem em Chamas (Portrait de la Jeune Fille en Feu, 2019), dirigido por Céline Sciamma “O projeto do cinema feminista, portanto, não é tanto ‘tornar visível o invisível’, como diz o ditado, ou destruir a visão por completo, mas construir outro (objeto de) visão e as condições de visibilidade para um sujeito social diferente” (LAURETIS, Teresa de. Alice Doesn’t, 1984, p.67, tradução minha).
-
Tampopo, cinema e sabores
Bora começar falando de coisa boa? Comida! Eu amo comida! Amo sovar uma massa e ver ela crescer com paciência para virar um pão ou pizza. Amo preparar um ganache e abrir uma massa de torta para montá-la. Amo bater um bolinho rápido, que perfuma a casa, quando chega uma visita. Amo especialmente os aromas: aquele das especiarias espalhando pelo ambiente, especialmente quando aquecidas na frigideira; de legumes assando com ervas; de cebola e alho fritando; do dendê na panela no preparo de uma moqueca. Enfim, sou da cozinha, sou dos aromas e dos sabores. Mas mais que tudo, gosto de comer. Comida boa é algo imensamente prazeroso e não raro lugares e memórias…
-
Lucy and Desi
Está chegando ao fim a temporada de premiações com o Oscar se aproximando. Impressão minha ou esse ano deu uma saturada? De qualquer forma estou prontíssima para comemorar a(s) vitória(s) de Jane Campion no domingo! E por falar em Oscar, já assistiu ao Honest Trailer sobre os indicados a melhor filme desse ano? Vale a pena! E se você assistiu a Apresentando os Ricardos (Being the Ricardos, 2021) porque Nicole Kidman foi indicada a melhor atriz e ficou com a sensação de que gostaria de conhecer mais sobre Lucille Ball, a personagem histórica que encarna, a dica é Lucy and Desi (2022), disponível no Prime Video. O documentário, dirigido por Amy Poehler, dá conta de abarcar a…
-
Cow
O quinto longa (e primeiro documentário) da cineasta Andrea Arnold, é, na verdade, um filme (quase) mudo de terror. Luma, a protagonista, é uma vaca leiteira em uma fazenda comum da Inglaterra. Um rápido google após o filme me informa que a expectativa de vida de uma vaca gira em torno de 20 anos, mas vacas leiteiras podem não chegar aos 8. A gestação é viável a partir dos 2 anos, mas algumas fontes defendem que aos 14 meses já é possível sem riscos. Ela dura de 9 a 10 meses e o intervalo entre partos pode ser de cerca de 12 meses, para aumentar a produção. Uma vida inteira…
-
Titane
Em Raw, Julia Ducournau já havia mostrado a que veio, usando o canibalismo para abordar crescimento, sexualidade e, mesmo, pertencimento, num filme único e provocativo (que eu amo). Em Titane, de certa forma, repete esses temas e o body horror, mas os explora de outras formas, talvez ainda mais extremas. Com imagens evocativas, que devem ficar na minha memória por muito tempo, o filme borra diversas fronteiras na própria protagonista. O corpo de Alexia é ciborgue e atrai o interesse de estranhos. É, ao mesmo tempo, humano-máquina, que busca sexo na máquina e afeto no humano. O sex appeal do inorgânico, conforme estabelecido por Mario Perniola, se manifesta para ela…
-
Melhores filmes de 2021
Também conhecido como “os filmes que eu mais gostei”, portanto uma lista bastante pessoal. Eu não tenho hábito de, durante dezembro, fazer repescagem dos filmes lançados ao longo do ano. Esse ano não foi diferente. Eu vi menos lançamentos, o que resultou em uma lista de filmes antigos mais extensa. Foi, também, um ano muito cansativo: segundo ano de pandemia que ninguém aguenta mais, passei 6 meses estagiando na Itália, fui jurada no Kinoforum, participei da curadoria de uma mostra online e da produção de duas, ministrei 3 cursos, participei de vários debates e ainda produzi 27 episódios do podcast do Feito por Elas no meio disso. E, claro, trabalhando…
-
30 melhores filmes vistos pela primeira vez em 2021
Essa lista, que faço todos os anos, contém alguns dos filmes que eu mais gostei de conhecer esse ano e que não são lançamentos, nessa jornada contínua que é descobrir bons cinemas. Como sempre, para facilitar, diretoras e diretores com mais de um filme que que pudessem figurar entre meus preferidos, tiveram só um listado. A lista também pode ser conferida no letterboxd, onde também é possível ver minha nota. Filmes sobre os quais escrevi ou gravei podcast tem links no título e a ordem da disposição é cronológica, já que ranquear seria uma tarefa ingrata. Seguem os escolhidos. Um Homem com uma Câmera (Chelovek s kino-apparatom, 1929) Direção: Dziga Vertov Senhoritas…
-
Ataque dos Cães
Eu já escrevi sobre como Jane Campion trabalha a relação entre erotismo e morte, tão bem analisada por Bataille, no seu Em Carne Viva. Em Ataque dos Cães voltam a se entrelaçar a pulsão de morte que se mistura ao desejo. Como em O Piano, Rose é rodeada por um ambiente natural (e também social) hostil, em que precisa medir forças com um homem que acaba de conhecer. Dessa vez trata-se da figura bruta de Phil. Mas Rose não é Ada. É uma mulher frágil e mesmo seu piano não é uma ferramenta de expressão, mas mais um elemento de pressão que se soma a outros em torno de sua trajetória…