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    [Tribeca 2025] Inside (2024)

    Este texto faz parte da cobertura do Tribeca Film Festival 2025, que ocorre entre 4 e 15 de junho. Em Inside (2024), o diretor e roteirista Charles Williams expõe o sistema prisional como um ciclo de desumanização. Ao mostrar as histórias que convivem em uma cadeia na Austrália, o filme não busca justificar o que os detentos que estão ali fizeram, e sim, mostrar que eles vivem em uma prisão com muros bem mais altos que aquela estrutura física: a culpa.  Vincent Miller é Mel, um jovem que está em custódia desde os 12 anos. Ao completar 18, é transferido de um centro de detenção juvenil para uma cadeia. O…

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    [78º Festival de Cannes] Highest 2 Lowest

    Este texto faz parte da cobertura do 78ª Festival de Cinema de Cannes, que ocorre entre 13 e 24 de maio. Spike Lee é um mestre obcecado e reverente a seus próprios gurus. De fato, todo aluno assim o é, de certa maneira, pelo menos, até que se aprenda a caminhar com as próprias pernas. Apaixonado, deferente, mas nunca submisso, Lee ocupa, hoje, o elevado status de ser, ele mesmo, professor, por trilhar seu caminho com peculiaridade, respeitando e, na mesma medida, desafiando obras de prestígio consolidado. Discípulo da Universidade de Nova Iorque e pupilo de Martin Scorsese, no primeiro ano do curso de cinema realizou um filme intitulado The…

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    [Tribeca 2025] Un Futuro Brillante (2025)

    Este texto faz parte da cobertura do Tribeca Film Festival 2025, que ocorre entre 4 e 15 de junho. Sobra tempo aos jovens. Para uns, isso significa um futuro cheio de possibilidades. Para outros, um peso nos ombros. Elisa (Martina Passeggi) vive entre esses dois sentimentos em Un Futuro Brillante, da cineasta uruguaia Lucía Garibaldi. Selecionada para um experimento de migração, ela logo descobre que o que a torna especial aos olhos dos avaliadores é fugaz.  O filme dirigido por Garibaldi e roteirizado por ela e Federico Alvarado não está muito interessado em explicar o que é essa jornada na qual Elisa vai partir. O mundo interior da personagem é…

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    Vontade Indômita (1949)

    Publicado originalmente em 21/05 na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui. No fim de semana eu vi um filme chamado Vontade Indômita (The Fountainhead, 1949), dirigido por King Vidor, do lindíssimo A Turba (The Crowd, 1928). Acontece que toda hora me dava vontade de esbofetear os personagens, na lógica do meme “frases que valem tapa na cara”, com seus diálogos que na verdade são monólogos, verdadeiros discursos permeados por uma ideologia conservadora, egoísta  e individualista. Eles falam o tempo todo que indivíduos são oprimidos pela sociedade, que aqueles que não se curvam diante da maioria são esmagados. O protagonista, Howard Roark (não confundir com o cineasta Howard Hawks), interpretado por Gary…

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    [78º Festival de Cannes] O Riso e a Faca

    Este texto faz parte da cobertura do 78ª Festival de Cinema de Cannes, que ocorre entre 13 e 24 de maio. Não é novidade que o cinema integrou (e ainda integra) um processo neocolonial contemporâneo que parece ainda muito distante de encontrar seu fim, vez que se articula através de formas indiretas de dominação, sutis por se manifestarem não por violências frontais, mas por inserções cotidianas na economia, na cultura, na tecnologia, na exploração de recursos naturais de determinado povo e país. É o neoimperialismo revestido de moço branco bem apessoado e cheio de boas intenções. Nesse contexto, Pedro Pinho, diretor português que levou O Riso e a Faca, coprodução…

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    Ainda não é Amanhã (2025)

    É impossível assistir a um filme como O Acontecimento ou Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre sem ser tomada pela angústia quando vemos as protagonistas, tão jovens, tendo que lidar com os labirintos sofridos da falta de acesso a direitos reprodutivos. O mesmo quando, na vida real, acompanhamos as consequências nefastas da revogação do Roe contra Wade, decisão judicial que permitia as leis estaduais garantirem acesso ao aborto legal nos Estados Unidos. Com sua revogação em 2021, diversos estados baniram essa garantia, mesmo em casos de risco para a saúde da gestante (condição que garante, teoricamente, o acesso ao aborto no Brasil), e a mortalidade de mulheres grávidas só vem aumentando.…

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    [78º Festival de Cannes] Nouvelle Vague

    Este texto faz parte da cobertura do 78ª Festival de Cinema de Cannes, que ocorre entre 13 e 24 de maio. Se há um único atributo com capacidade de unir a filmografia de Richard Linklater, de Jovens, Loucos e Rebeldes a Apollo 10 e ½, de Escola de Rock a Assassino por Acaso, eu arriscaria dizer que, quiçá, esse traço seria a leveza. O diretor transita leve pela melancolia, flui pelas questões mais elementares e humanas da vida ao ponto de nos arrancar risos e lágrimas, em sequência. Em retrospecto, tenho a impressão de que sempre assisto a seus filmes com um sorriso discreto, porém constante, no rosto –  lá…

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    Um Outro Francisco (2022)

    Em Um Outro Francisco, de Margarita Hernández, dois fotógrafos italianos, Giorgio Negro e Dario de Dominicis, resolvem visitar uma festa de São Francisco em Canindé, uma pequena cidade do interior do Ceará, considerada a segunda maior celebração dedicada ao santo do mundo. E aí retornam algumas vezes em anos posteriores, não só fazendo novos registros, mas também apresentando para as pessoas retratadas aqueles realizados no passado. O documentário, sensível, traz discussões caras à antropologia visual, como, por exemplo o direito de “roubar” imagens: um fotógrafo brasileiro questiona a ética de fotografar um modelo incauto, como por exemplo uma pessoa que não perceba que esteja sendo fotografada. Já os europeus parecem…

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    [78º Festival de Cannes] La Ola

    Este texto faz parte da cobertura do 78ª Festival de Cinema de Cannes, que ocorre entre 13 e 24 de maio. Sebastián Lélio, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional pelo fabuloso Uma Mulher Fantástica, levar um musical para sua premiére no 78º Festival de Cannes é um acontecimento que fez lotar a sala Debussy em expectativa. Pessoalmente, gosto muito do cinema do diretor chileno, mas apesar disso, procuro não alimentar anseios ou pré-julgamentos a respeito dos filmes que assisto, e por essa mesma razão, dificilmente leio sinopses ou fico na caçada de trailers. Não trata-se de nenhuma mania ou fobia de spoilers, apenas tento, na medida do possível, gozar…

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    [78º Festival de Cannes] The History of Sound

    Este texto faz parte da cobertura do 78ª Festival de Cinema de Cannes, que ocorre entre 13 e 24 de maio. Em certo momento, quiçá já na metade da projeção de The History of Sound, eu me vi torcendo para que, durante os duetos de música folk estadunidense cantados por Lionel (Paul Mescal) e David (Josh O’Connor), houvesse uma grande reviravolta vampiresca e uma nova versão de Pecadores, de Ryan Coogler, se formasse, quiçá, assumindo um lado queer. Não é que não aprecie as canções do gênero. Não é que não admire Mescal e O’Connor, pelo contrário, tenho gostado muito dos mais recentes trabalhos do último. É que, em que…