Cinema

Invocação do Mal 2 (The Conjuring 2, 2016)

https://www.youtube.com/watch?v=PUdxMXjiRck

Em Invocação do Mal 2 o diretor James Wan retoma a narrativa supostamente real do casal Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), famosos investigadores de fenômenos sobrenaturais. Dessa vez eles partem para investigar o Poltergeist de Enfield, como ficou conhecido o caso que aconteceu na Inglaterra no final dos anos 70. Janet Hodgson (Madison Wolfe), uma menina de 11 anos ouvia a voz de Bill Wilkins, um homem que dizia ter morado (e morrido) na casa em que ela morava com a mãe, Peggy (Frances O’Connor), a irmã mais velha, Margaret (Lauren Sposito) e Billy (Benjamin Haigh) e Johnny (Patrick McBurney), seus dois irmão pequenos. Lorraine não queria mais que eles se envolvessem com esse tipo de fenômeno, em virtude da grande exposição midiática que receberam com o que ocorreu em Amityville e da crença de que estavam prejudicando suas vidas pessoais, permitindo que entidades malignas se aproximassem de sua casa. À contragosto, aceitam investigar se o caso é forjado, à pedidos da Igreja. Dessa vez a trama gira em torno da fé e dos questionamentos dos protagonistas, bem como daqueles que os rodeiam. Em se tratando dos fenômenos abordados, não há nada de novo na película, mas ela ganha pontos quando se trata de estilo.

Como no filme anterior, aqui o design de produção é um dos pontos fortes. A recriação dos figurinos da família à partir de registros fotográficos e filmagens nos transportam para a época retratada e ainda acrescentam muito à narrativa em termos visuais, como o uso recorrente de vermelhos pelas meninas, causando um constante senso de perigo e dramaticidade, em contraste com os verdes e azuis calmos dos Warren e mesmo o roxo de sua mãe. O telefone amarelo, os bibelôs de porcelana e o sofá de couro surrado, por exemplo, são elementos comuns na decoração do período e também reforçam esse cuidado com os detalhes na cenografia e ajudam a construir a sensação de uma casa fria, embora cheia de vida.

Esse esmero é reflexo da elegância com que James Wan trabalha o gênero. Seus enquadramentos são cuidadosos, assim como uso de planos médios e longos. Destaco o plano-sequência em que a câmera passeia pelos cômodos da casa, apresentando o quartos das crianças e dando ao espectador a noção completa do espaço a ser explorado. Além disso, a forma como as entrevistas realizadas com Janet são recriadas para película, em comparação com as que ocorreram na realidade, acrescentam a elas a seriedade e a credibilidade necessárias para a narrativa. Em determinado momento todos estão de costas para Janet, que está falando com a voz de Bill Wilkins e cuja silhueta parece crescer no foco raso da câmera. Esse tipo de detalhe contribui para a construção de uma atmosfera repleta de tensão.

Outro ponto forte é a química entre o casal Warren, proporcionada pelo charme e boa atuação de seus intérpretes, além de Madison Wolfe, que também demonstra talento como protagonista.

Na sessão a que assisti o filme, houve um esforço de criar interação da sala de cinema com o que acontecia na tela: em uma cena específica, as luzes da sala se acenderam e piscaram de modo coordenado com o que se passava na história. Apesar de ser uma ideia interessante, o efeito geral foi de remover o espectador da trama, causando burburinho na plateia. Saí da sessão me perguntando se foi algo praticado com todas as cópias ou foi uma iniciativa local, mas não encontrei mais nenhum relato como esse, portanto parece ser a segunda opção.

James Wan mais uma vez entrega um filme de gênero elegante e bem construído, que se pauta em uma composição cuidadosa de cenários e figurinos, bem como no talento de seus atores principais. Com o sucesso desse filme, do mesmo modo como do anterior, e a quantidade de histórias envolvendo os Warrens da vida real disponíveis para adaptação, é fácil imaginar que outros filmes virão.

3,5estrelas

the conjuring 2

P.S. Se você ainda não foi assistir ao filme, preste muita atenção aos detalhes: uma palavra de grande importância na história aparece de maneira velada pelo menos três vezes na casa dos Warren, duas vezes na cozinha e uma na biblioteca.

Compartilhe
Share

Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *