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[Mostra de São Paulo] Jovens Mães

Esse texto faz parte da cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 16 e 30 de outubro.


Para quem conhece um pouco do cinema dos Dardenne, seu mais novo filme, Jovens Mães (Jeunes Mères), vem como a repetição de uma fórmula antiga, já sabe-se o que esperar. Buscando emular a realidade das políticas públicas da Bélgica para adolescentes que engravidam, Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne escrevem e dirigem o longa a partir de uma perspectiva mais geral, não focada em uma única personagem para explorar esse universo. Assim, Jessica (Babette Verbeek), Perla (Lucie Laruelle), Julia (Elsa Houben), Ariane (Janaïna Halloy Fokan) e Naïma (Samia Hilmi) são protagonistas que dividem o tempo de tela com histórias se alternando como episódios, sem um cruzamento além do fato de morarem no mesmo abrigo. Para além de uma perspectiva realista, dinâmica e humana sobre a realidade das adolescentes em situação vulnerável, resta saber se não há um desgaste na falta de reinvenção do cinema dos irmãos.

A montagem insere os acontecimentos de cada jovem de forma ágil, ainda que os planos sejam longos, não há tempo de respiro entre uma vida e a outra, que se apertam no tempo de filme da mesma forma que dividem espaço na maternidade que as acolhe. A câmera na mão, instável, já é de praxe, bem como esse realismo observando problemáticas sociais. Jovens Mães é praticamente um documentário encenado, que demonstra como o material que exibe é fundamentado no que existe de verdade, e nas pesquisas feitas sobre essas políticas. Há uma urgência em que a pessoa espectadora compreenda a narrativa como uma observação dos fatos. Dessa forma, o funcionamento do abrigo, suas regras e funções, são bastante sublinhadas.

Ainda que cada adolescente possua seu tempo de tela, suas jornadas soam como repetições. A ideia de ser mais generalista ao entrelaçar a história de meninas negras, brancas, grávidas e já mães, em relacionamentos com os pais e abandonadas, ou daquelas que pretendem ficar com seus bebês com outras que buscam a adoção, é perdida para se diluir em uma encenação dramática em que tudo acaba em gritos e choros. O que se vê mais são garotas desesperadas e despreparadas, exercendo a imaturidade típica de suas idades, mas bastante amparadas pelo estado. A instituição de maternidade não só as ensina a cuidar das crianças, como dá um caminho para seguirem suas vidas a partir disso, deixando claro que possuem escolha.

O retrato humano e interessante desse sistema acaba ficando repetitivo e cansativo. Talvez se Jovens Mães fosse o primeiro filme de algum cineasta iniciante, impressionaria, mas ver os Dardenne chegando a esse resultado levanta o questionamento se eles estão apenas fazendo a mesma coisa sem pensar em se reinventar. As atrizes, em sua maioria com pouca ou nenhuma experiência no cinema, são bem guiadas pelos diretores, mas os constantes berros passam a criar um ciclo apelativo que parece não ter mais nada a dizer em pouco tempo de duração do longa. 

Para além disso, a vivência coletiva na maternidade é pouco explorada, como sugere o cartaz da obra. Há em alguns momentos sugestões cativantes de como aquelas jovens se organizam e se apoiam, mas suas experiências individuais são o verdadeiro foco do filme, de certa forma até mesmo retratando a solidão de suas jornadas, em que o amparo vai cair geralmente no colo das mulheres que trabalham no local, sem muito destaque para quem são essas pessoas. Como produto informativo, chama mais a atenção, mas em pouco tempo se torna desgastante. 


Essa cobertura foi possível graças ao nosso financiamento coletivo. Agradecemos em especial a: Carlos Henrique Penteado, Gizelle Barros Costa Iida, Helga Dornelas, Henrique Barbosa, João Bosco Soares, Janice Eleotéreo, José Gabriel Faria Braga de Carvalho, José Ivan dos Santos Filho, Lorena Dourado Oliveira, Lucas Ferraroni, Marden Machado, Mariana Silveira, Nayara Lopes, Patrícia de Souza Borges, Pedro Dal Bó, Vinicius Mendes da Cunha, Waldemar Dalenogare Neto, Zelia Camila de O. Saldanha

Crítica de Cinema e formada em Rádio e TV. Apaixonada pela sétima arte desde sempre, trabalhando com marketing para pagar as contas e assistindo a filmes para viver.

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