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[8º Olhar de Cinema] Salão Jolie

Esta crítica faz parte da cobertura do 8ª Olhar de Cinema- Festival Internacional de Curitiba, que ocorre entre 5 e 13 de junho na cidade. 

Sabine é uma mulher camaronesa vivendo irregularmente na Bélgica. Seu pequeno salão, dentro de uma galeria de um barro de imigrantes, é o cenário para ao documentário da também camaronesa Rosine Mbakam. Atrás das câmeras a cineasta conversa com a cabeleireira sobre histórias cotidianas.

Sabine trança cabelos, costura apliques, faz extensões e, entre uma cliente e outra que se sucedem na cadeira, desfia diligentemente mechas de cabelos que serão utilizados nos penteados que realiza. As falas passam pela saudade de quem está longe, pela desejo de quem ficou de vir para a Europa, pelo tráfico de pessoas e pelos métodos usados para migração. As histórias são ditas em uma fala compassada com o movimento das mãos que trabalham e os relatos de uma realidade dura, de busca por uma vida melhor, são de uma banalidade rotineira.

Sem poder voltar à sua terra de origem, para não ter que passar novamente pela fronteira, as pessoas retratadas aguardam a regularização de sua situação. O salão se estabelece como um espaço que é generificado: todas as clientes são mulheres e os homens apenas aparecem para entregar comida ou pedir conselhos.

As mulheres, de diferentes países e origens, se agregam no cubículo, que acaba por se tornar um lugar de congraçamento e também de fortalecimento de identidades étnico-raciais e de nacionalidade. As origens diversas das cliente são mencionadas como ponto de diferenciação entre elas, ao mesmo tempo que todas compartilham um lugar de deslocamento na sociedade em que vivem. Os cabelos se tornam um ponto em comum, em que, apesar das nacionalidades, elas se unem em sua negritude. Entre cada confidência e cada laçada de cabelo existe uma reafirmação da presença das pessoas ali reunidas em uma Europa que lhes dá as costas ao mesmo tempo em que as observam com curiosidade. Os dois extremos são retratados no medo da polícia, que passa fechando estabelecimentos e levando seus responsáveis, bem como com os turistas brancos que caminham em frente à vitrine tirando fotos e comentando, como se estivessem diante de uma realidade exótica, deslocada da sua.

Curiosamente, Sabine, que diz que quando a câmera para em você, você foge, jamais foge do diálogo com a diretora, mesmo com a presença constante da câmera sobre si. Salão Jolie, o lugar, é um espaço em que relações se constróem e significados se sobrepõem. No Salão Jolie, o filme, dá conta de imergir nesse lugar e desvelar os sentidos ali colocados, especialmente no que diz respeito a identidade e pertencimento.

Nota: 3,5 de 5 estrelas
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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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