[48ª Mostra de São Paulo] Sugarcane
Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui.
Sugarcane (Canadá, 2024, Documentário, cor, 107 min)
Direção: Julian Brave NoiseCat e Emily Kassie
Sinopse: Um tributo à resiliência dos povos originários e seu modo de vida, o documentário faz um retrato cinematográfico de uma comunidade durante um momento de ajuste de contas internacional. Em 2021, evidências de sepulturas sem identificação foram descobertas no terreno de uma escola residencial indígena administrada pela Igreja Católica no Canadá. Após anos de silêncio, a separação forçada, a assimilação e o abuso que muitas crianças sofreram nesses internatos segregados foram trazidos à tona, gerando um clamor contra um sistema projetado para destruir populações indígenas. Vencedor do prêmio de melhor direção da seção U.S. Documentary do Festival de Sundance.
Comentário: Daqueles filmes para chorar de raiva. Me destruiu completamente. Eu não consigo parar de pensar no depoimento das pessoas idosas, tão sofridas. Por se tratar de uma produção da National Geographic tem uma linguagem e estrutura que às vezes lembra de programas televisivos documentais. Felizmente a complexidade do tema e a proximidade do enquadramento dos cineastas ajuda. Avó e principalmente pai de Julian são parte dos protagonistas do filme. A expressão de negação diante de um exame de DNA é avassaladora. A busca por algum tipo de sentido, ou de pedido de perdão que nunca vem, por parte de padres ou mesmo do papa é angustiante. (Pede-se perdão a Deus, mas não a quem foi violentado). Ninguém foi responsabilizado e a sensação que dá é que, apesar de (poucos) desfechos pessoais, ninguém será. É frustrante, doloroso, revoltante pensar em tudo que crianças passaram, em um abuso multigeracional, que ressoa até hoje numa comunidade que tenta se curar.