-
Um Outro Francisco (2022)
Em Um Outro Francisco, de Margarita Hernández, dois fotógrafos italianos, Giorgio Negro e Dario de Dominicis, resolvem visitar uma festa de São Francisco em Canindé, uma pequena cidade do interior do Ceará, considerada a segunda maior celebração dedicada ao santo do mundo. E aí retornam algumas vezes em anos posteriores, não só fazendo novos registros, mas também apresentando para as pessoas retratadas aqueles realizados no passado. O documentário, sensível, traz discussões caras à antropologia visual, como, por exemplo o direito de “roubar” imagens: um fotógrafo brasileiro questiona a ética de fotografar um modelo incauto, como por exemplo uma pessoa que não perceba que esteja sendo fotografada. Já os europeus parecem…
-
Cinemateca Brasileira homenageia documentaristas brasileiras com a Mostra 7 Décadas de História
Entre os dias 30 de maio e 8 de junho a Cinemateca Brasileira homenageia 14 diretoras documentaristas brasileiras, com 34 títulos exibidos. A mostra reúne filmes feitos entre a década de 1960 e os dias atuais, realizados por cineastas de diferentes regiões do Brasil. A seleção evidencia a riqueza estética e a potência poética das contribuições das mulheres ao cinema documental, destacando a diversidade de vozes e abordagens que marcaram – e seguem marcando – esse campo do audiovisual. Se, como afirmou a montadora Vânia Debs, a história do cinema brasileiro é, em grande medida, a história dos filmes de ficção, é no documentário que as cineastas brasileiras encontraram, historicamente,…
-
Alma do Deserto (2024)
Co-produção colombiana e brasileira, Alma do Deserto (Alma del Desierto, 2024) retrata uma mulher em busca de seus direitos. Georgina Epiayú, a protagonista, é uma mulher indígena da etnia Wayúu que quer obter um documento de identidade para, assim, poder votar nas eleições nacionais que se aproximam. Algo que o filme revela é sua transgeneridade e os obstáculos burocráticos que lhe são impostos. Georgina mora sozinha em uma casa isolada em um deserto da região de La Guajira. Seu isolamento geográfico e a aridez da paisagem, apesar da beleza, parecem funcionar como uma espécie de metáfora para sua própria situação legal. Talvez por isso a diretora, a também antropóloga Monica Taboada-Tapia,…
-
[57ª Festival de Brasília] Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá
Este texto faz parte da cobertura da 57ª Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que ocorre entre 30 de novembro e 7 de dezembro. Luís Kaiowá, o personagem a quem o título Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá se refere, permanece adequadamente ausente na maior parte do filme. Quando tinha 10 anos de idade, ele e seu irmão, 10 anos mais velho, saíram de seu território no Mato Grosso do Sul. Era o período da ditadura militar e, nesse caminho, foram interceptados por administradores da FUNAI, que os deslocaram para as terras dos Maxakali (Tikmũ’ũn), em Minas Gerais. Com casas, línguas, roupas e modos de viver diferentes, foi ali que ele…
-
[57ª Festival de Brasília] Criaturas da Mente
Este texto faz parte da cobertura da 57ª Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que ocorre entre 30 de novembro e 7 de dezembro. Marcelo Gomes, veterano do cinema, diretor de filmes como Cinema, Aspirinas e Urubus (2005) e Estou Me Guardando para Quando o Carnaval Chegar (2019), começa seu novo documentário, Criaturas da Mente (2024), relatando que, durante a pandemia de Covid 19, que assolou o mundo a partir do começo de 2020, ele percebeu que parou de sonhar. Questionando o sentido do sonho (e da sua falta), entrou em contato com o doutor Sidarta Ribeiro, biólogo e neurocientista, professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte…
-
Orlando, Minha Biografia Política (2023)
Usando a obra de Virginia Woolf para dar contorno a diversas vivências, Paul B. Preciado eleva a figura da autora enquanto discute questões fundamentais A identificação de Paul B. Preciado com Orlando torna-se nesse filme mais do que uma homenagem à figura de Virginia Woolf e seu livro, mas uma exaltação da obra enquanto um diálogo entre seu conteúdo e a história das pessoas trans, utilizando o texto para colocar em pauta desafios enfrentados por essas representações modernas do protagonista da escritora. Em uma conversa direta entre os autores, é a própria jornada do diretor que se costura ao redor da história de todos os personagens, que apresentam seus relatos…
-
Dicas de streaming
Vou fazer um apanhado de dicas de filmes disponibilizados recentemente em streaming. Entrou no catálogo da Filmicca Born in Flames (1983), de Lizzie Borden, que é um sci-fi punk simplesmente eletrizante, instigante e inspirador. Se deixe levar para além da estética rudimentar do baixo orçamento, pelas ideias incendiárias nessa obra cuja trama se passa em um futuro recente distópico e com uma abordagem política feminista, que aborda também questões étnico raciais e de orientação sexual. Eu sou apaixonada por ele e ele rendeu um dos nossos programas que mais gosto de ter feito. Na mesma plataforma estreou agora o maravilhoso documentário Histórias que Nós Contamos (Stories We Tell, 2012), da Sarah Polley. Hoje é comum ter docs que abordam…
-
Toda Noite Estarei Lá
Tati Franklin e Suellen Vasconcelos nem sempre mantém o foco na batalha contra a igreja, mas dão contornos interessantes com o retrato bastante humano de sua protagonista Mel Rosário contraria a expectativa de vida das pessoas trans no Brasil por muito, com quase 60 anos, um salão de beleza e uma crença muito forte em Deus, sua principal batalha além da diária para sobreviver, também como qualquer pessoa pobre no país, é contra a igreja evangélica do bairro que não permite sua entrada. Além dos protestos que a mulher faz todas as noites com cartazes na frente do local, um processo judicial corre há anos, e mesmo depois de perder,…
-
Copa 71 (2023)
Texto publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui. Você já ouviu falar da Copa do Mundo de 1971 de Futebol Feminino? Não? Pois é, eu também não tinha. Foi com espanto que assisti ao documentário chamado Copa 71, dirigido por Rachel Ramsay e James Erskine, que relata os acontecimentos em torno do evento esportivo. Na época, futebol feminino era proibido em grande parte do mundo, incluindo no Brasil, onde só foi liberado em 1979. Isso significava que meninas e mulheres não poderiam jogar em clubes ou eventos oficiais, mas não queria dizer que não jogassem nas ruas ou em campos…
-
Feito por Elas #203 The Watermelon Woman
Nesse podcast conversamos sobre o filme The Watermelon Woman (1996), considerado o primeiro longa dirigido por uma mulher negra e lésbica a estrear nos cinemas nos Estados Unidos. Nele, a cineasta Cheryl Dunye cria um falso documentário, visando ressaltar o apagamento de mulheres negras e sáficas na Hollywood clássica. Comentamos a proposta ousada e provocativa do filme, o humor da narrativa em meio a um tema sério, bem como a linguagem e as escolhas de direção de arte. O programa é apresentado por Isabel Wittmann e Stephania Amaral, com participação de Yasmine Evaristo. Feed | Facebook | Twitter | Instagram | Letterboxd | Telegram Pesquisa, pauta, roteiro e apresentação: Isabel Wittmann e Stephania…