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Todos Menos Você (2023)

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Rom-Com Revival?

Esses dias comentei no grupo do telegram que eu amo comédia romântica! Para mim foi, talvez, o gênero que mais formativo da minha cinefilia na minha adolescência, com todos aqueles filmes da Julia Roberts, da Sandra Bullock, da Meg Ryan, da Norah Ephron, enfim! Não à toa defendi a criação do especial de Dia dos Namorados no podcast, que fez minha alegria por todos os anos que ele existiu. Mas tem duas questões importantes sobre isso. Primeiro que as pessoas muitas vezes não o entendem como um gênero, não se atentando para as convenções específicas e esperando algum tipo de verossimilhança com a vida real. Como o horror ou o sci-fi, comédia romântica é pura fantasia e funciona dentro de sua própria lógica do gênero. 

Dito isso, o segundo ponto é que não consigo deixar de pensar que o gênero sofre de filmes ruins mais que o horror, por exemplo. Filmes de romance que furam a bolha cinéfila são, muitas vezes, no máximo medianos. Já horror, por sua vez, quando fura a bolha, vem logo um Jordan Peele, uma Julia Ducournau e até mesmo (por que não?) um Shyamalan. Não é que não haja filmes ruins sendo feitos (de todos os gêneros), mas às vezes me parece que aquilo que fica falado e que todo mundo vê, na média, horror está melhor representado que rom-com. Dito isso, nesse último mês tivemos alguns lançamentos de comédias românticas que se destacaram e vou aos poucos comentar aqui elas, na ordem da que menos gostei até a que mais gostei.

Me surpreendi ao ver que quem dirige Todos Menos Você (Anyone But You, 2023) é Will Gluck que também é responsável pelo simpático Amizade Colorida (Friends with Benefits, 2011) e pelo ótimo (na minha opinião) A Mentira (Easy A, 2011). A versão teen de A Letra Escarlate talvez se beneficie do carisma de Emma Stone, que Sidney Sweeney, protagonista de sua nova empreitada, dessa vez uma versão de Muito Barulho por Nada, não consegue imprimir. 

Talvez nem seja totalmente culpa dela. A trama começa bem: o encontro do potencial casal, na fila de um café, é fofo. Beatrice, a protagonista, precisa usar o banheiro do estabelecimento, mas o uso só é liberado consumindo algo. A fila está gigantesca e ela não pode esperar. Ben (Glen Powell), percebendo a situação finge ser seu marido e pede algo para ela beber, liberando, assim, o acesso dela ao tão desejado banheiro. 

Ele a espera sair e o encontro segue para a casa dele, onde ele cozinha e ambos conversam até dormir. No outro dia de manhã, ela acorda antes dele e, sem saber o que fazer, vai embora de sua casa. No meio do caminho percebe que estava sendo ridícula e resolve voltar, apenas para ouvi-lo falar para um amigo que ela é chatíssima e ainda bem que foi embora. (Clássico movimento de fazer pouco caso pra não demonstrar para os amigos que está a fim). Encontro fofo, desencontro besta, nenhuma tentativa de tentar conversar sobre o que aconteceu.

Tempos depois eles se reencontram no contexto de um casamento na Austrália e… eles se odeiam. E para que todo mundo pare de os amolar querendo fazer casalzinho, resolvem fazer um acordo e… fingirem ser um casal. Sim, daí pra frente o filme empilha clichês de maneira exaustiva e não tem charme salve. Os destaques talvez sejam as participações de Dermot Mulroney, o eterno “Melhor Amigo” do “Casamento” com Julia Roberts, e Charlee Fraser, com a ex de Ben, em seu primeiro papel no cinema, logo antes de interpretar a mãe da protagonista no flashback em Furiosa. De resto, prepare-se para marasmo e mais do mesmo. É aquele filme que começa simpático e vai virando um checklist de rom-com até sobrar só o roteiro de IA.

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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