[48ª Mostra de São Paulo] Pedro Páramo
Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui.
Pedro Páramo (Pedro Páramo, México, 2024, Ficção, cor, 131 min)
Direção: Rodrigo Prieto
Sinopse: Baseado no romance homônimo de Juan Rulfo, considerado um dos livros mais importantes do México, o filme acompanha Juan Preciado, que, após a morte da mãe, vai para a pequena e isolada localidade onde nasceu à procura do pai, Pedro Páramo. Ele encontra uma cidade fantasma, mas com uma série de pessoas misteriosas, e toma conhecimento sobre a busca implacável do falecido pai por riqueza e poder. O passado torna-se presente à medida que aprendemos a verdade por trás da caça de Páramo pelo amor que conheceu ainda criança. A linha entre os mortos e os vivos, o passado e o presente, constantemente se confunde nesta história surreal de desejo, esperança, arrependimento e ressentimento. Exibido no Festival de Toronto.
Comentário: Que filme curioso. Fiquei pensando na sua estética bastante internacional (isso faz sentido?) e aí os créditos entregam que é o primeiro trabalho de direção de Rodrigo Prieto, fotógrafo de Barbie, Assassino da Lua das Flores, Brokeback Mountain, Frida e outros. Ele também é responsável pela fotografia desse.
Por outra lado, trata-se de uma narrativa de Realismo Fantástico em uma saga multigeracional que não poderia ser mais latino-americana. O personagem título é um fazendeiro que controla a região de suas propriedades. O protagonista, Juan Preciado, é seu filho (interpretado por Tenoch Huerta, conhecido como o vilã da Marvel Namor). Em seu leito de morte sua mãe pediu para que ele procurasse seu pai, para conseguir um desfecho para sua história. Ela indica o trajeto do lugar, isolado de tudo.
Chegando lá descobre que toda a aldeia está abandonada, povoada apenas de sussurros. As poucas pessoas que encontra no caminho, desaparecem logo depois. Esse começo evoca uma sensação de medo desse desconhecido, que oscila entre acolhedor e ameaçador. Há uma mudança de protagonismo para narrar a história de Pedro em flashback. Ele atormentou campesinos, passou a perna em concorrentes, matou e estuprou. Esse último aspecto é particularmente perturbador, porque ele estupra jovens de ascendência indígena, mas tem um amor platônico por uma mulher branca em quem nunca encosta por toda sua vida.
A estrutura narrativa não linear às vezes é confusa e repetitiva. O filme é adaptado de um romance de mesmo nome de 1955, daqueles que são considerados inadaptáveis, justamente pela ausência de capítulos, narrativa fragmentada e alternância de narradores. Parece-me que o filme é um enorme exercício estilístico em torno do uma trama complexo, tentando comunicá-la também para um público internacional. Apesar das dificuldades apresentadas, a história prende a atenção. O filho paga pelos pecados do pai e o mundo inteiro é danação. No mínimo um filme interessante.