42ª Mostra de São Paulo- Almofada de Alfinetes
Esta crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 18 e 31 de outubro na cidade.
Lyn (Joanna Scanlan) e Iona (Lily Newmark) são mãe e filha e têm um relacionamento de grande proximidade. Acabaram de se mudar para uma nova cidade, por motivos não revelados, e parecem querer usar essa oportunidade para começar a vida do zero. Isso vai da decoração da sua casa às amizades. Iona, especialmente, se esforça para criar uma imagem diferente de si, inventando uma nova mãe e criando um novo comportamento, de jovem que experimenta a vida.
Ambas são apresentadas por meio de uma direção de arte que destaca a extravagância e excentricidade de seus gostos, estetizando cada aspecto de suas vidas. As roupas são confeccionadas por trabalhos manuais cuidados, com animais, flores e outros apliques, além de acessórios feitos à mão. A casa é repleta de bibelôs e estampas florais. Ambas dormem em um quarto repleto de bichinhos de pelúcia. Por outro lado, os cômodos entulhados de tranqueiras indicam que essa estética, que tenta levá-las para o campo do fantástico, não existe sem perturbação. De certa forma essa temática infantil diz mais sobre a mãe do que sobre a filha.
Lyn é corcunda e sua aparência funciona como uma cicatriz que carrega em todas as suas relações, marcada pela crueldade do tratamento dos demais. Em virtude disso, ela parece querer bloquear os sinais de vida adulta para si e evitar ao máximo que eles cheguem a Iona. Isso fica claro tanto no seu hábito de dormir com uma chupeta na boca quanto na preocupação quando a filha requisita um quarto só para si e expressa o desejo de usar batom.
As mudanças no comportamento da adolescente aparecem com a convivência com novas amigas, garotas populares na escola. A vontade de se encaixar em um padrão de normalidade faz com quem nem sempre ela seja sincera sobre si mesma. O filme se embrenha em uma narrativa sobre bullying que chega ao ponto do desesperador. Iona não reage às violências que lhe são impingidas e elas se arrastam para ações cada vez mais extremas.
Lyn, por sua vez, mostra que por trás de sua doçura existe a possibilidade de punitivismo. Uma vez que ela tenta extirpar a sexualidade de sua vida adulta, não aceita que a menina tenha contato com esse aspecto de sua própria vida. Por isso, a sexualidade exposta, mesmo que não usufruída é punida, mas punida com um peso ainda maior pelo restante da sociedade. E as tentativas de Lyn de se integrar às demais mulheres do local mostram que as adultas são iguais ou piores do que as filhas, dando sentido às suas ações.
Por trás da beleza das formas apresentadas, o filme descortina a crueldade de um mundo que exclui o que lhe é estranho. Algumas decisões de roteiro certamente causam desconforto em quem o assiste e nem sempre o tom é acertado, mas a força com que se constrói, seja nas atuações, na direção de arte ou na direção decidida, têm como resultado um filme impactante. Embora os temas possam ser frequentemente abordados em filmes sobre crescimento, não respostas fáceis nem simplificações na sua abordagem. Escrito e dirigido pela novata Deborah Haywood, Almofada de Alfinetes (Pin Cushion) trabalha do bullying quase como fábula mas sem jamais tirar o peso da sua violência, mostrando que a realidade pode ser tão doce e tão cruel quanto o objeto que lhe dá título, que, embora macio, pode espetar quem não manuseá-lo com cuidado.
6 Comentários
Pingback:
Pingback:
Pingback:
Pingback:
Pingback:
Pingback: