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Retrato de uma Jovem em Chamas e Teresa de Lauretis
Heloïse: Quando você me olha, quem você acha que eu estou olhando?Retrato de uma Jovem em Chamas (Portrait de la Jeune Fille en Feu, 2019), dirigido por Céline Sciamma “O projeto do cinema feminista, portanto, não é tanto ‘tornar visível o invisível’, como diz o ditado, ou destruir a visão por completo, mas construir outro (objeto de) visão e as condições de visibilidade para um sujeito social diferente” (LAURETIS, Teresa de. Alice Doesn’t, 1984, p.67, tradução minha).
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Tampopo, cinema e sabores
Bora começar falando de coisa boa? Comida! Eu amo comida! Amo sovar uma massa e ver ela crescer com paciência para virar um pão ou pizza. Amo preparar um ganache e abrir uma massa de torta para montá-la. Amo bater um bolinho rápido, que perfuma a casa, quando chega uma visita. Amo especialmente os aromas: aquele das especiarias espalhando pelo ambiente, especialmente quando aquecidas na frigideira; de legumes assando com ervas; de cebola e alho fritando; do dendê na panela no preparo de uma moqueca. Enfim, sou da cozinha, sou dos aromas e dos sabores. Mas mais que tudo, gosto de comer. Comida boa é algo imensamente prazeroso e não raro lugares e memórias…
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Lucy and Desi
Está chegando ao fim a temporada de premiações com o Oscar se aproximando. Impressão minha ou esse ano deu uma saturada? De qualquer forma estou prontíssima para comemorar a(s) vitória(s) de Jane Campion no domingo! E por falar em Oscar, já assistiu ao Honest Trailer sobre os indicados a melhor filme desse ano? Vale a pena! E se você assistiu a Apresentando os Ricardos (Being the Ricardos, 2021) porque Nicole Kidman foi indicada a melhor atriz e ficou com a sensação de que gostaria de conhecer mais sobre Lucille Ball, a personagem histórica que encarna, a dica é Lucy and Desi (2022), disponível no Prime Video. O documentário, dirigido por Amy Poehler, dá conta de abarcar a…
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Marvelous Mrs. Maisel
No dia 18 de fevereiro começou a 4ª temporada de Maravilhosa Sra. Maisel (Marvelous Mrs. Maisel (2017-), outra das minhas novelas de época, dessa vez de comédia. Inclusive acho que já recomendei Mrs. Maisel por aqui, mas sempre vale reforçar. A série é protagonizada por Miriam Maisel (interpretada por Rachel Brosnahan), uma dona de casa mãe de dois filhos que se separa do agora ex marido e começa uma carreira como comediante. Tudo isso na Nova York do final dos anos 50 e início dos anos 60 (a depender da temporada) e permeada por figuras reais que podem ser conhecidas do público. Um traço marcante do seriado é o roteiro afiado, marcado por falas velozes, escrito…
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Bolão do Oscar Feito por Elas 2022
Essa é 11ª edição do Bolão do Oscar que organizo desde 2012 lá no blog Estante da Sala. No começo participavam apenas pessoas próximas, de 10 a 20. Mas ele foi crescendo ano a ano e em 2020 chegou a 245 participantes. Por esse motivo resolvi tirá-lo do reduto de um blog pessoal e trazê-lo para Feito por Elas. Com isso foram 306 participantes no ano passado. Então vamos de Bolão do Oscar Feito por Elas 2022. Seguem as regras: Os votos de devem ser feitos via formulário até o dia 26 de março às 12h (horário de Brasília). É permitido votar apenas uma vez: crave seus palpites. Uma planilha…
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A Idade Dourada (Gilded Age)
Pra quem gosta de filme ou série de época, como eu, tem novidade boa: Julian Fellowes está lançando A Idade Dourada (The Gilded Age) pela HBO Max. Se o nome do autor não despertou nenhuma memória, ele é oscarizado pelo roteiro de Assassinato em Gosford Park (Gosford Park, 2001), o whodunit do Robert Altman, e também roteirizou o Feira das Vaidades (Fanity Fair, 2004), protagonizado pela Reese Witherspoon e dirigido pela Mira Nair; e A Jovem Rainha Vitória (The Young Victoria, 2009), do Jean-Marc Valleé com a Emily Blunt. Mas talvez seu trabalho mais conhecido seja Downton Abbey (2010-2015), seriado que se passava na década de 1920 e acompanhava gerações da família Crowley, do condado de Grantham e, portanto, da nobreza britânica, que criou e roteirizou. Até a…
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Cow
O quinto longa (e primeiro documentário) da cineasta Andrea Arnold, é, na verdade, um filme (quase) mudo de terror. Luma, a protagonista, é uma vaca leiteira em uma fazenda comum da Inglaterra. Um rápido google após o filme me informa que a expectativa de vida de uma vaca gira em torno de 20 anos, mas vacas leiteiras podem não chegar aos 8. A gestação é viável a partir dos 2 anos, mas algumas fontes defendem que aos 14 meses já é possível sem riscos. Ela dura de 9 a 10 meses e o intervalo entre partos pode ser de cerca de 12 meses, para aumentar a produção. Uma vida inteira…
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Prêmio Abraccine 2021 destaca trabalhos de mulheres
Ao fim de mais um ano, associadas e associados da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) listaram e elegeram seus filmes favoritos para o Abraccine 2021. Dois aspectos se destacam nas listas votadas pela entidade: a forte presença de filmes que estrearam diretamente em streaming e forte presença de filmes dirigidos por mulheres, que foram apenas dois entre os nacionais, mas 5 entre os internacionais e os curtas metragens. Além disso, obras dirigidas por mulheres foram as premiadas em 2 das 3 categorias, pelo segundo ano consecutivo. O longa-metragem estrangeiro mais votado por integrantes da associação foi “Ataque dos Cães”, da cineasta neozelandesa Jane Campion. Uma cineasta também assina o…
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Yellowjackets
Nesse fim de ano eu parei para assistir à primeira temporada de Yellowjackets, série parcialmente narrada em flashbacks sobre um grupo de adolescentes em 1996 em um time de futebol cujo avião cai em uma floresta. Elas levam 19 meses para ser resgatadas. No presente, algumas das sobreviventes são interpretadas por Melanie Lynskey, Tawny Cypress, Christina Ricci e Juliette Lewis. Fica a recomendação, mas na verdade puxei esse assunto é desculpa para indicar a ótima entrevista que Melanie Lynskey, que interpreta a protagonista Shauna, deu pra revista Rolling Stone. Ela fala sobre sua carreira, sexismo e body shaming, entre outros assuntos. É de se pensar, com o começo de carreira promissor que ela teve, porque tantos anos…
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Titane
Em Raw, Julia Ducournau já havia mostrado a que veio, usando o canibalismo para abordar crescimento, sexualidade e, mesmo, pertencimento, num filme único e provocativo (que eu amo). Em Titane, de certa forma, repete esses temas e o body horror, mas os explora de outras formas, talvez ainda mais extremas. Com imagens evocativas, que devem ficar na minha memória por muito tempo, o filme borra diversas fronteiras na própria protagonista. O corpo de Alexia é ciborgue e atrai o interesse de estranhos. É, ao mesmo tempo, humano-máquina, que busca sexo na máquina e afeto no humano. O sex appeal do inorgânico, conforme estabelecido por Mario Perniola, se manifesta para ela…