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42ª Mostra de São Paulo- Culpa (2018)

Esta crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 18 e 31 de outubro na cidade. 

Com passagem por diversos festivais mundo afora, Culpa (Den skyldige, 2018) é o candidato dinamarquês a uma vaga no prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar de 2019 e também é o primeiro longa metragem de seu diretor, Gustav Möller. Seu protagonista é Asger (Jakob Cedergren), que à princípio sabemos ser um policial afastado das ruas, aguardando julgamento e que está alocado, temporariamente, na central telefônica da polícia, atendendo a chamadas de emergência.

Asger não é um pessoa empática: as primeiras ligações mostram um homem duro e ríspido, pouco acostumado com negociações ou conversas apaziguadoras. Ele claramente não está confortável na função que está ocupando e, entre piadas com colegas, deixa claro seu desejo de voltar para a anterior. O foco dado à aliança em seu dedo, em determinado momento, também dá pistas que há algo em sua vida pessoal que não foi revelado.

O desleixo com que cumpre suas funções muda quando recebe um chamado de Iben (Jessica Dinnage), uma mulher desesperada que foi sequestrada pelo ex-marido, Michael (Johan Olsen). Sem poder ir aos locais apontados, Asger pode contar apenas com seu telefone e seu computador para investigar o caso.

E aí a direção mostra toda sua eficiência ao construir uma tensão quase sólida, de tão palpável, em torno da trama. A fotografia destaca a luz vermelha que rodeia o personagem, cada vez mais presente e mais sufocante, conforme o cenário encolhe, tornando-se mais limitado e mais escuro. A linguagem adotada diz muito com muito pouco. A câmera captura cada expressão facial do ator, com grande proximidade. Asger está trancado na sala da central telefônica e a atuação de Cedergren, nesse sentido, é essencial para o filme e ele transmite com precisão desconforto, medo, ansiedade, raiva: cada etapa pela qual seu personagem passa, limitado em suas ações.

Por isso a mixagem de som tem um peso importante no filme: ela consegue deslocar não só o personagem, mas o próprio espectador, para locais que não são visíveis. É possível ouvir os carros, perceber o desamparo de uma criança, sentir a chuva que cai e com isso, de certa forma, ampliar o espaço daquelas paredes, ainda que diante da frustração de não poder saber efetivamente o que ocorre lá fora.

Por fim, é importante destacar que, como muitos filmes escandinavos contemporâneos e seguindo outros do subgênero nordic noir, o filme trata de maneira transversal de diversos temas sociais, que passam pela violência doméstica, adicção, despreparo das forças policiais, presença de pessoas muçulmanas na Europa e saúde mental. Mas entre reviravoltas que deixam que assiste na beira da poltrona, quase sem espaço para respirar, nada é simples em Culpa.

4,5 de 5 estrelas

 

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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