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Missão: Impossível- Efeito Fallout (Missão: Impossível- Fallout, 2018)

É comum se dizer que Tom Cruise é um dos últimos astros à moda antiga: carrega consigo sua persona dentro e fora das telonas e ainda é capaz de atrair bilheteria apenas com seu nome. Apesar das notícias relacionadas à sua religião, a cientologia, como o afastamento de sua filha mais nova, Suri, seu sucesso não se abala. E com Missão: Impossível- Efeito Fallout, sexto filme da franquia que chega a vinte e dois anos de idade, mostra que continua carregando Ethan Hunt, seu protagonista, com carisma, mostrando porque os filmes de ação são onipresentes em sua carreira nos últimos anos.

O filme é dirigido por Christopher McQuarrie,o primeiro diretor a trabalhar duas vezes na série, retornando após Missão: Impossível – Nação Secreta (Mission: Impossible – Rogue Nation, 2015). Com isso ele dá continuidade de maneira direta àquela trama. Solomon Lane (Sean Harris), terrorista anarquista preso no filme anterior, aparece novamente, mas dessa vez o Sindicato, como se chama o grupo que lidera, é comandado pelo anônimo John Lark que afirma que “quanto maior o sofrimento, maior a paz”. Por isso pretende matar cerca de um terço da população mundial com a detonação de uma bomba nuclear na divisa entre China e Paquistão. Política não é a força do roteiro e é utilizada apenas para dar sentido às reviravoltas mirabolantes.

O humor continua sendo, justamente, um ponto forte, marcado na presença recorrente dos personagens Luther (Ving Rhames) e Benji (Simon Pegg). A eles soma-se August Walker (Henry Cavill), simpático em seu bigode mas muitas vezes bastante inabilidoso ao ler suas falas. O absurdo manifestado nas máscaras de borracha que imitam perfeitamente o rosto de outra pessoa, apenas para revelar a identidade real por trás delas continua sendo utilizado com sucesso. É uma estratégia que lembra as tramas rocambolescas de Scooby Doo, mas que é efetivo, resgatando o clima de espionagem exagerado, pautado na Guerra Fria, que permeava o seriado de televisão que originou os filmes. Em certo momento é falado que eles agem como se fosse Halloween: adultos mascarados falando “gostosuras ou travessuras”. Mas, como a própria trama trata de assegurar, essa é parte da sua graça.

É uma pena que o carinho dedicado à equipe masculina não se estenda às mulheres do elenco. A vilã Viúva Branca (Vanessa Kirby) é desperdiçada em subtramas que ao final são descartadas. Erica Sloan (Angela Basset) é responsável por algumas das piores decisões do filme, ao não confiar na IMF. E mesmo Ilsa Faust (Rebecca Ferguson), que foi introduzida na película anterior como uma personagem de destaque, aqui se divide entre o papel de antagonista inexplicável, interesse amoroso e até mesmo donzela em perigo (por mais que ela mesma se salve). Pelo menos se manteve o cuidado em relação ao seu figurino e é possível vê-la de paletó e sapatilha, perfeitamente confortável para lutar em uma sequência de ação movimentada em uma casa noturna. A volta à cena da primeira esposa de Ethan, Julia (Michelle Monaghan) desvela a escrita fraca e preguiçosa por trás de ambas, que, em uma construção genérica de destreza e destemor, acabam por serem praticamente intercambiáveis.

Como nos demais filmes da franquia, as set pieces chamam atenção e entre elas há uma cena de luta em um banheiro particularmente frenética. Tom Cruise corre, como sempre, e segue fazendo suas cenas sem dublês. Mas nem tudo funciona. Uma longa perseguições de carros em Paris se torna rapidamente repetitiva. Um veículo preso em um lugar alto ameaçando cair sobre as pessoas abaixo e uma luta perto de um desfiladeiro já foram feitos melhor em Jurassic Park: Parque dos Dinossauros (1993) e Pantera Negra (2018), por exemplo. Mas a sequência que se destaca é a que tem sido utilizada para divulgar o filme: uma perseguição de helicópteros que bailam entrem penhascos e montanhas.

Apesar dos deslizes, Missão: Impossível – Efeito Fallout é um filme que diverte e entretém, mostrando que a franquia não só se mantem consistente, como ainda tem fôlego para seguir em frente, enquanto o físico e disposição de seu astro permitirem.

Nota: 3,5 de 5 estrelas

 

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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