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[48ª Mostra de São Paulo] Betânia

Este texto faz parte da cobertura da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 17 e 30 de outubro. Publicado originalmente na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui.

Betânia (Brasil, 2024, Ficção, cor, 121 min)

Direção: Marcelo Botta

Sinopse: Após a morte do marido, Betânia, uma parteira de 65 anos, é convencida pelas filhas a voltar ao seu povoado, na orla das dunas do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, onde o resto da família ainda vive. Ela deixa para trás uma vida simples e agrária, sem eletricidade, e chega a um lugar em que tradição e modernidade colidem. Impulsionadas pelos sons ancestrais do Maranhão, Betânia e seus familiares buscam renascer —enquanto o mundo acaba. Exibido nos festivais de Berlim e Guadalajara.

Comentário: Dona Betânia, moradora de um mundo que está deixando de existir, é encantadora. É muito bonito acompanhar seus dramas e mesmo as interações com as amigas. O figurino explode de cores nos vestidos estampados e a fotografia tem um belo trabalho de iluminação nos locais e momentos sem eletricidade. O trabalho de parteira é um contraponto entre vida e morte e trazer uma criança ao mundo também é lembrar de sua criança que se foi. Viver sem energia se mostra inviável e ela retorna para sua comunidade local, também chamada de Betânia. Os Lençóis estão sendo invadidos pelo lixo gringo. Os turistas deixam euros, mas têm demandas específicas. A água muda de lugar e invade os terrenos. O modo de vida tradicional está em extinção. Quando o filme permanece na personagem-título, tem seus melhores momentos. Há um excesso de dramas paralelos: o medo do neto se envolver com o crime organizado, o genro guia que se perde nas dunas, a filha cooptada por uma igreja, a neta que quer ser DJ. Nenhum desses dramas é aprofundado e os poucos conflitos se solucionam facilmente. Há também um interesse em registrar não só as belezas locais, como ritos, artes e costumes. O filme quer dizer muito sobre um lugar que raramente aparece retratado na ficção. Às vezes se perde um pouco nessa proposta, mas é inegável sua beleza. Que lindo estar nesse lugar com Dona Betânia. 

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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