[49ª Mostra de São Paulo] Entre Duas Mulheres
Este texto faz parte da cobertura da 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que ocorre entre 16 e 30 de outubro.
Em Entre Duas Mulheres (Deux Femmes En Or), dirigido por Chloé Robichaud com roteiro de Catherine Léger, duas vizinhas, Violette (Laurence Leboeuf) e Florence (Karine Gonthier-Hyndman) dividem a parede entre seus apartamentos e a frustração com suas vidas sexuais. Cada uma delas tem carreiras de sucesso e está em momentos diferentes da maternidade. A primeira em licença maternidade, com um bebê ainda dependendo de seus cuidados. A segunda tem um filho já com 10 anos de idade. Mas ambas nem lembram mais o que é ter relações sexuais com seus maridos. A partir das conversas que entabulam a esse respeito, resolvem tomar as rédeas da situação.
A primeira decisão de Florence é, sem consultar médico algum, parar o uso de sua medicação antidepressiva, pois sente que ela lhe corta a libido. E rapidamente a recupera, sentindo o próprio toque na pele. A câmera subjetiva mostra seu olhar em planos detalhes observando partes do corpo de diversos homens e obtendo respostas eróticas. Mas ao interpelar seu marido… nada. Enquanto isso, no outro lado da parede, Violette está sempre sozinha, pois o seu marido viaja a trabalho com uma amante. A solução das vizinhas, agora amigas e confidentes, é apelar para a mão de obra. Literalmente.
Tudo começa quando o marido de Florence manda instalar TV à cabo no quarto. Parece bom demais para ser verdade, quase enredo de paródia pornô. Mas é exatamente isso. Controle de pragas. Limpeza e vidros. Encanamento. Pintura de parede. Limpeza de chão. Ambas, em alguma medida, experimentam um universo de sabores e fantasias em busca de entender o que funciona em termos de relacionamento para cada uma. O humor é sempre presente, mas não exime o filme das qualidades artísticas e destaco a direção de arte de Louisa Schabas, que elabora os apartamentos como reflexos das personalidades das moradoras, com o papel de parede floral e tons pastel de Viollete e os verdes e ocres intensos de Florence, tudo com uma iluminação natural dourada na fotografia de Sara Mishara. Esse cenário é um espaço de experimento, de vivência, porque entender e dar conta de sua vida sexual de maneira satisfatória também deveria fazer parte do todo das vidas dessas mulheres.
O filme trata a trajetória das personagens com enorme frescor, mas não com leviandade e a diretora sabe que o que funciona para uma (nesse momento) talvez não funcione para outra, não trazendo uma solução única para desejos múltiplos. Ela cria graça, mas também espaço para reflexão em uma narrativa que não deixa de ser uma análise de costumes. A vida de Florence e Violette não é só carreira e só família: eles querem ter direito ao seu prazer também. Entre Duas Mulheres foge do óbvio e do puritanismo para retratar com leveza a vida sexual de suas personagens dentro (e fora) do casamento.


Essa cobertura foi possível graças ao nosso financiamento coletivo. Agradecemos em especial a: Carlos Henrique Penteado, Gizelle Barros Costa Iida, Helga Dornelas, Henrique Barbosa, João Bosco Soares, Janice Eleotéreo, José Gabriel Faria Braga de Carvalho, José Ivan dos Santos Filho, Lorena Dourado Oliveira, Lucas Ferraroni, Marden Machado, Mariana Silveira, Nayara Lopes, Patrícia de Souza Borges, Pedro Dal Bó, Vinicius Mendes da Cunha, Waldemar Dalenogare Neto, Zelia Camila de O. Saldanha


