Críticas e indicações
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Democracia em Vertigem
A recomendação de hoje não poderia deixar de ser Democracia em Vertigem, documentário da Petra Costa que entrou para o catálogo da Netflix em mais de 190 países no dia 19. Petra descortina os acontecimentos políticos do Brasil dos últimos anos, usando uma narração em off e ponto de vista extremamente pessoal, ela conecta causa e efeito dos acontecimentos ao mesmo tempo em que se coloca nos momentos apresentados. Prepare-se para passar raiva tudo de novo. E para chorar também. Não só foi golpe como foi um golpe misógino e agora temos quatro anos de autoritarismo pela frente.
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Filmes dirigidos por mulheres na Netflix
O primeiro semestre acabou e chegamos à metade do ano. Nessa época muitas vezes as pessoas adeptas da cinefilia fazem suas listas de melhores filmes desse período e começam a pensar naqueles que ficaram para trás. A Netflix tem um catálogo imenso de filmes e muitas vezes é difícil de conseguir localizar o que chegou de novidade ao serviço de streaming. Para quem faz o desafio #52FilmsByWomen complica conseguir acompanhar as opções disponíveis. Pensando nisso, separei todos os filmes que são lançamentos do catálogo brasileiro, disponibilizados entre janeiro e junho e que são dirigidos ou co-dirigidos por mulheres. Segue a lista, já com o link que leva para o respectivo…
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Electra, de Alice Caymmi
Depois de me arrebatar pela primeira vez com o hit “Sozinha” (que chegou na minha história na hora exata), Alice Caymmi retorna com o álbum “ELECTRA” (disponível no Spotify, etc..). A vibe é tensa, dramática (ADORO), oposta aos beats eletrônicos e empoderados do batidão neon – também interessante – do trabalho anterior, Alice pega no samba denso e pianos introspectivos (animando um pouco mais só ao final) em regravações como “De qualquer maneira” na bela e melancólica introdução, passando de Maysa (Diplomacia, 1958) a Letuce (Areia Fina, 2012 – lembrando que “tudo que é perfeito dá defeito cedo ou tarde”) (@discosdaste) Videoclipe (vertical) de “Diplomacia”, de Alice Caymmi.
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O Outro Pai
O Outro Pai (2019), de Gabriela Tagliavini, é daqueles filmes que apesar de todas as evidentes falhas – como clichés de final feliz e romances forçadíssimos – acaba sendo uma ótima surpresa. Na trama, quatro irmãs que se reencontram no funeral da mãe descobrem que não são filhas biológicas do pai com que conviveram, e devem descobrir suas origens como condição para recebimento da herança. Me diverti e me emocionei com a comédia espanhola (a quanto tempo não tinha um guilt pleasure tipo novela mexicana!), especialmente pela união fraternal, real desejo da mãe realizado. Fiquei satisfeita pelas representatividades importantes (ainda que colocadas de forma um pouco desengonçada), não só da diretora…
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Tidal, por Fiona Apple
Hoje é dia de dica musical vintage da Stê! Não comentei aqui ainda sobre minha adoração pela cantora, compositora e pianista (que pianista!) norte-americana Fiona Apple, especialmente pelo incrivelmente maduro primeiro álbum Tidal (1996), lançado quando Fiona tinha pouco mais do que 18 anos! As letras poéticas e pesadas tratam de temas como se sentir culpada pela própria sexualidade – como na icônica “Criminal” (clipe abaixo) e até o abuso que ela sofreu em “The child is gone”, faixa que ela evitava tocar ao vivo devido ao trauma. Sempre escuto e fico impressionada como ela parece saber tudo sobre a vida desde tão jovem! Fiona não lança muitas faixas extras, o que me…
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Coisa Mais Linda
Criticada por questões de representatividade que a Netflix vem tentando compensar em sua publicidade, (com limitações do meu lugar de fala) eu considero a série nacional Coisa mais Linda um ensaio comovente de sororidade entre as quatro protagonistas mulheres e um balanço crítico razoável entre dolorosas diferenças sociais e raciais. A diretora Julia Rezende (do meu amado Ponte Aérea) ficou responsável por dois episódios. Tudo isso com ares de Mad Men e pérolas como Elza Soares na trilha sonora!A protagonista Maria Luíza (Maria Casadevall), em sua trajetória de independência do pai e do marido está muito bem na fita, mas não deveria tentar ser engraçada em alguns momentos. Ela é amparada por novas e velhas…
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Toy Story 4
Talvez eu não devesse ter revisto todos os Toy Story antes de ver esse quarto. Rever o primeiro, lançado em 1995, me deixou com a triste impressão de que Woody era, então um brinquedo que encarnava o papel de masculinidade branca e cisgênero, ao contrário de outros brinquedos que não eram antropomórficos. Woody estava satisfeito no seu local de privilégio como o preferido de Andy, sem se importar com o status secundário dos demais. Até o dia que Buzz Lightyear, uma versão mais aprimorada de masculinidade branca e cisgênero chega para ocupar o seu lugar. Toda a história é sobre esse personagem privilegiado dentre os demais e que não quer…
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[8º Olhar de Cinema] A Portuguesa
Esta crítica faz parte da cobertura do 8ª Olhar de Cinema- Festival Internacional de Curitiba, que ocorre entre 5 e 13 de junho na cidade. O cinema de Rita Azevedo Gomes é marcado pelo apuro estético e cuidado na composição. Em A Portuguesa não é diferente. A história da jovem portuguesa que se casa com o lorde Von Ketten e se muda para o norte da Itália é pano de fundo para a cineasta criar cenas de enorme beleza plástica. A Portuguesa é uma mulher que não encontra lugar na castelo em ruínas de seu marido sem recursos. Eles tiveram um ano para aproveitar o enlace e o primeiro filho,…
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[8º Olhar de Cinema] Daniel
Esta crítica faz parte da cobertura do 8ª Olhar de Cinema- Festival Internacional de Curitiba, que ocorre entre 5 e 13 de junho na cidade. Com apenas uma hora de duração, Daniel, dirigido por Marine Atlan, é uma obra que consegue abordar temas de importante discussão contemporânea de forma delicada e envolvente. O protagonista que dá nome ao filme é uma criança travessa, que, junto com seus colegas, prega peças para roubar chocolates ou espionar professores. Em um dia atípico, saindo da enfermaria após um sangramento em seu nariz, Daniel se perde em corredores internos da escola, chegando a uma porta que se conecta ao fundo do vestiário. Ele abre…
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[8º Olhar de Cinema] Salão Jolie
Esta crítica faz parte da cobertura do 8ª Olhar de Cinema- Festival Internacional de Curitiba, que ocorre entre 5 e 13 de junho na cidade. Sabine é uma mulher camaronesa vivendo irregularmente na Bélgica. Seu pequeno salão, dentro de uma galeria de um barro de imigrantes, é o cenário para ao documentário da também camaronesa Rosine Mbakam. Atrás das câmeras a cineasta conversa com a cabeleireira sobre histórias cotidianas. Sabine trança cabelos, costura apliques, faz extensões e, entre uma cliente e outra que se sucedem na cadeira, desfia diligentemente mechas de cabelos que serão utilizados nos penteados que realiza. As falas passam pela saudade de quem está longe, pela desejo…