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Zama (2017)

Publicado originalmente em 1º de novembro como parte da cobertura da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Diego de Zama (Daniel Giménez Cacho) é um funcionário da coroa espanhola na Argentina, a quem foram prometidas riqueza e honrarias que jamais se concretizaram. Morando em um local ermo, tenta manter a aparência europeia com uma peruca desgrenhada, utilizada apenas quando necessária, e uma casaca mal cortada. A solidão e o ridículo são suas companheiras, enquanto constantemente solicita poder voltar para casa. Os planos de Lucrecia Martel são trabalhados com academicismo e o desenrolar da história é lento.

O personagem-título é retratado como uma figura sem grandes méritos e o empreendimento “civilizatório” da colonização aparece fracassado, perdido na inutilidade da função burocrática de seus responsáveis. Curiosamente, apesar desse posicionamento marcado, pouca voz é dada aos povos de outras etnias retratados: pessoas negras e indígenas perpassam a trama sem agência real ou como a confirmação dos medos e preconceitos trazidos da Europa.

Filmes recentes, como O Abraço da Serpente Z: A Cidade Perdida, apesar de também terem seus problemas, especialmente no que tange à exotização, abordam de maneira mais interessante o contato entre homens brancos e populações ameríndias. O filme ganha fôlego no terceiro ato, com a materialização da ameaça que ronda à boca pequena sob o nome de Vicuña Porto (Matheus Nachtergaele), mas, como um todo, o resultado final é árido e até mesmo enfadonho.

Nota: 3 de 5 estrelas

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Crítica de cinema, doutora em Antropologia Social, pesquisadora de corpo, gênero, sexualidade e cinema.

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