Críticas e indicações
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[78º Festival de Cannes] Die, My Love
Este texto faz parte da cobertura do 78ª Festival de Cinema de Cannes, que ocorre entre 13 e 24 de maio. A associação que se faz entre mulheres e figuras selvagens, animalescas, acompanha milênios de expressões artísticas, religiosas e culturais, construindo arquétipos que perpassam tempos, lugares e gerações, e que podem, a depender da representação e contexto, trazer perspectivas tanto positivas como negativas. Um exemplo que, na contemporaneidade, vem se destacando e contribuindo para o empoderamento e autoconhecimento feminino é o livro Mulheres que Correm com Lobos, escrito pela psicanalista americana Clarissa Pinkola Estés, que vai, em brevíssima síntese, estimular, perpassando por contos universais, a liberdade da mulher como ser…
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[78º Festival de Cannes] Sirât
Este texto faz parte da cobertura do 78ª Festival de Cinema de Cannes, que ocorre entre 13 e 24 de maio. Para a religião islâmica, a ponte de Sirât seria um atravessamento, um divisor de limites e águas muito significativo, seja nas percepções de fé de seus seguidores, seja em seu sentido mais simbólico. Do ponto de vista da fé, trata-se de uma ponte suspensa sobre o inferno, que separa crentes e descrentes, sendo que o sucesso da travessia vai direcioná-los ao céu ou ao inferno. Sob o prisma figurativo, a ponte pode representar as dificuldades e desafios enfrentados no decorrer da vida, e que vão colocar suas crenças à…
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[78º Festival de Cannes] Sound of Falling
Este texto faz parte da cobertura do 78ª Festival de Cinema de Cannes, que ocorre entre 13 e 24 de maio. É difícil precisar se trata-se de uma memória confiável, e se aquele era, de fato, o primeiro velório que compareci. Outros podem ter ocorrido antes, mas foi este que ocupou um espaço muito importante em minhas recordações infantis. Mas é certo que me recordo bem de estar, com minha família, velando o corpo de uma tia de minha mãe, já idosa. Não me lembro de seu semblante, mas lembro que, juntamente com uma prima com idade próxima da minha, exploramos os caixões alheios e seus mortos, rindo curiosas, correndo…
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Animale (2024)
No imaginário geral, toureiros são homens com capas vermelhas que enfrentam touros e os ferem em uma batalha de vida ou morte, em que o sangue se espalha e apenas um dos dois animais consegue sair vivo, nem sempre o humano. Mas, em uma pequena cidade no sul da França, Emma Benestan retrata essas pessoas de forma mais pacífica, com roupas brancas, em embates de coragem em que a ideia é ninguém sair machucado. Vencer significa pegar um barbante amarrado nos chifres do touro, valendo algum dinheiro, sem derramar sangue. Os toureiros em Animale são homens, jovens em sua maioria, que praticamente dançam ao redor dos fortes animais, tentando pegar…
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[78º Festival de Cannes] Directors’ Factory Ceará-Brasil
Este texto faz parte da cobertura do 78ª Festival de Cinema de Cannes, que ocorre entre 13 e 24 de maio. A Directors’ Factory é um projeto da Quinzena dos Cineastas do Festival de Cannes que visa oportunizar a entrada de novos talentos no cenário cinematográfico internacional, unindo jovens diretores para o desenvolvimento conjunto de filmes, estimulando a criação de novas ideias. Depois de passar por Taiwan, Chile, Dinamarca, África do Sul, Tunísia, Filipinas, Finlândia, Líbano e Sarajevo, o projeto mirou o Brasil por meio do olhar do cinema cearense. Sob a curadoria de Karim Aïnouz, produziu quatro curtas-metragem, todos filmados e finalizados na cidade de Fortaleza. São eles: Ponto…
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[78º Festival de Cannes] Partir Un Jour
Este texto faz parte da cobertura do 78ª Festival de Cinema de Cannes, que ocorre entre 13 e 24 de maio. A primeira sessão do primeiro Festival de Cannes a gente nunca esquece. Partir Un Jour, primeiro longa-metragem de Amélie Bonnin, ocupou esse espaço e esse status de memorabilidade – unicamente por ter sido selecionado para a abertura do 78ª edição do festival. Inspirado no curta-metragem da diretora que leva o mesmo nome, e carregado de homenagens nostálgicas a canções francesas famosas, inclusive, a música homônima Partir un Jour, do grupo 2 BE 3, o filme acompanha Cécile Béguin (interpretada pela cantora e compositora Juliette Armanet), uma chef de cozinha…
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Adolescência (2025)
Publicado originalmente em 17/04 na newsletter para assinantes do financiamento coletivo do Feito por Elas. Para contribuir, assine aqui. A essa altura todo mundo que tinha interesse em assistir Adolescência (Adolescence, 2025), minissérie da Netflix que se tornou um fenômeno, já o fez. Criada e escrita por Stephen Graham e Jack Thorne, ela tem só quatro episódios, todos dirigidos por Philip Barantini. Ela dominou a conversa nas últimas semanas, mas lá vou eu dar meus pitacos também. No primeiro episódio vemos um grupo de policiais chegar arrombando a porta da casa de uma família de manhã cedo, logo depois do pai voltar de seu turno de trabalho noturno, enquanto os demais ainda estão dormindo. Armas em punho,…
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Cidade dos Sonhos (Mulholland Dr., 2001)
Passando aqui para contar a experiência de rever Cidade dos Sonhos em tela grande, depois de mais de 20 anos da recepção juvenil desse que foi o primeiro filme de David Lynch que vi. Em 2001 eu era uma jovem universitária com tempo para maratonar a obra completa de realizadores que me interessava conhecer, me perder pelas trilhas sonoras e leituras de referência, além de ter tempo de qualidade para conversar com amigos sobre a paixão por cinema. Hoje, velha universitária e trabalhadora CLT, reencontrar com esta obra foi um alívio em diversos níveis. Primeiro porque me trouxe de volta o desejo de escrever sobre; depois porque, mesmo conhecendo o…
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Lispectorante (2024)
Nove anos após explodir em cores e sons em Amor, Plástico e Barulho (2015) e três depois de se debruçar sobre os limites entre humano e máquina com o provocativo Carro Rei (2021), um filme que se posiciona de maneira bastante única em um panorama do cinema brasileiro, a cineasta Renata Pinheiro retorna com mais uma proposta visual inventiva em sua carreira. Dessa vez, em Lispectorante, temos a protagonista, Glória Hartman, uma mulher que volta para Recife em um momento de virada de sua vida. Glória é artista e passa por turbulências financeiras. Ao mesmo tempo, ela terminou um relacionamento. O centro da cidade como lugar de memórias é um…
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Homem com H (2025)
Homem com H (2025) é a balada de um sobrevivente. A cinebiografia de Ney Matogrosso é o canto de um homem meio bicho que faz do palco um habitat para a constante provocação. O filme de Esmir Filho faz um musical sem ser musical, na medida em que costura a história do artista pela arte que ele leva ao mundo há mais de cinco décadas. A beleza da obra de Ney é o fio condutor de uma história que mergulha nos vários seres que nele moram. A dualidade entre artista e homem é o centro narrativo do filme desde a abertura, com um Ney criança, pequeno em meio aos mistérios da…