Livros

  • Cinema,  Críticas e indicações,  Filmes,  Livros

    Jane Eyre e suas adaptações

    Esse mês o livro escolhido para leitura e conversa no Grupo de Leitura do Feito por Elas foi Jane Eyre, de Charlotte Brontë. Ele é um dos meus preferidos da vida e eu poderia ter participado dos debates informalmente, mas optei por relê-lo. E uma vez tendo feito isso, resolvi, talvez obcecadamente, ver algumas de suas adaptações audiovisuais. Nesse texto contarei um pouco de minhas impressões. Começando pelo livro: que leitura maravilhosa! Jane Eyre, a protagonista que dá nome à trama, é uma garota órfã de 10 anos que é enviada pela esposa de seu falecido tio para um internato de caridade para meninas sem posses. Cresce em meio aos…

  • Críticas e indicações,  Filmes,  Livros

    Copo americano

    Farei uma recomendação dupla, pois associei duas produções de mulheres com copos americanos nas capas. A primeira, copo vazio, é o novo livro da Letrux, Tudo que já nadei, dividido em Ressaca (“famoso textão”), Quebra-mar (poemas) e Marolinhas (aforismos anônimos). Comecei a ler as três partes em ordem inversa, começando pelo ato 3, e percebi que a Letrux é mesmo melhor na prosa. As múltiplas escolhas de formatos que ela explorou em Zaralha, projeto anterior, aqui se concentram no textual e eliminam fotos e desenhos, mas ela mantém o estilo memorial. Nesse corpo sem órgãos submerso há espaço ainda para diálogos de zap – ficcionais ou não – e ainda breves…

  • Críticas e indicações,  Filmes,  Livros

    O Amigo Americano

    Essa indicação vai ser dupla! No ano passado, no Grupo de Leitura FpE, fizemos a leitura conjunta do livro Carol (O Preço do Sal), da Patricia Highsmith, acompanhando a revisão do filme de mesmo nome para nosso programa sobre ele, no mês das escritoras. A escrita de Patricia Highsmith é envolvente, mas o romance destoa do conjunto de sua obra, marcado por livros sobre crimes (embora o romance entre duas mulheres poderia ser visto como um crime no contexto retratado). No embalo do interesse que a obra da escritora me despertou, li, agora na virada do ano, o livro Em Águas Profundas, em nova edição pela Editora Intrínseca, com tradução de Roberto Muggiati, e essa é a…

  • Críticas e indicações,  Livros

    Melhores livros lidos em 2020

    Esse ano, felizmente, voltei às leituras, em grande medida por causa do Grupo de Leitura do Feito por Elas, que foi uma das melhores coisas que de 2020 para mim. Em 2019 o Brasil desgraçou minha cabeça e eu simplesmente não consegui me dedicar aos livros. Foi ótimo voltar. Vamos à lista: Ficção As Meninas – Lygia Fagundes Telles Narrativa formalmente complexa escrita durante a ditadura militar no Brasil. A história, protagonizada por três jovens estudantes com trajetórias e personalidades distintas, é marcada pela tragédia e pela perda da inocência. A língua portuguesa abarca muita poesia na dor. O Sol É Para Todos – Harper Lee Infelizmente muito contemporâneo. Com…

  • Críticas e indicações,  Livros

    Mulheres imPERFEITAS

    Só na introdução de Mulheres imPERFEITAS, lançado no Brasil pela editora Cultrix, Carina Chocano me fez rever vários “desconfortos omitidos” da profissão de crítica de cinema, reafirmar meu amor pelo filme Ruby Sparks (e até pela Isla Fisher!), e perceber o quanto Alice (no País das Maravilhas) é uma das poucas, de fato, protagonistas, de […] https://stephaniaamaral.wordpress.com/2020/10/21/mulheres-imperfeitas/...

  • Críticas e indicações,  Livros

    Alerta Selvagem, de Susy Freitas

    Finalmente comprei meu exemplar do Alerta Selvagem (Editora Patuá), livro de poesia da jornalista, professora, Elvira (e amiga!) amazonense Susy Freitas. Os poemas começam intimistas, no “quarto em que dorme o inesperado” (‘o amigo’), o convite para beber (‘aprendizagem’/’beba’), ao que passam para alteridade dos “territórios percorridos nos sonhos dos outros” (‘aberta’). A carreira como crítica da autora é referenciada (‘cinema’ e ‘mise en abyme’), ela comenta sobre o vazio existencial virtual (‘a entertainer definitiva’), “ninguém nunca vai saber que horas você foi dormir” (‘pobre menina’), e o livro termina com seu caráter político acentuado, da crítica social ao pedigree gourmetizado (‘condomínio’) até a folia final “nas noites ébrias…incerteza nos corpos”…

  • Críticas e indicações,  Livros

    Quarenta dias, de Maria Valéria Rezende

    Sugestivo nome de livro pra ler na quarentena, não é mesmo? Mas Quarenta dias, da escritora (e freira!) Maria Valéria Rezende, já estava em meus planos de leitura antes mesmo deste caos pandêmico começar… A narradora-protagonista ora refere-se a si mesma como professora Póli, ora como Alice, durante seu percurso nômade em busca do desconhecido Cícero (seu Cheshire), o que ela mesma admite ser um pretexto para flanar e se perder por aí. Fugindo de uma condição imposta pela filha, ela acumula folhetos (estampados nas páginas formando uma trilha ilusória de pistas) e guardanapos com citações, palavras estas roubadas de sebos e livrarias, e sente na pele a invisibilidade e traços…

  • Cinema,  Críticas e indicações,  Filmes,  Livros

    Gigolô Americano e Teresa de Lauretis

    Esse texto foi originalmente escrito em meu perfil no Letterboxd, mas resolvi trazê-lo para o blog. Em seu livro Alice Doesn’t: Feminism, Semiotics, Cinema, Teresa de Lauretis, em certo momento, discute a relação entre imagem e prazer (tomando emprestado de Laura Mulvey), mediada ou mediando a sexualidade, nos termos de Foucault. Afirma: Como resultado direto da formação histórica da sexualidade, a representação imagética do corpo, presente do prazer visual do cinema, é um ponto focal de qualquer processo de identificação, exercendo uma influência sobre o espectador comparável apenas à tensão da narratividade (p.82, tradução minha) Coloca, portanto, a presença do corpo em cena como fundamental na forma como nós projetamos…

  • Críticas e indicações,  Livros

    Sobre Gatos, de Doris Lessing

    Acabo de ler “Sobre Gatos”, da Doris Lessing (1919-2013), escritora britânica que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 2007. Foi um presente acertadíssimo de amiga oculta da colega Camila Vieira! Excelente tradução feita pela Julia Romeu. Fiquei chocada com alguns relatos da autora, especialmente sobre sua infância no interior, quando os bichanos eram tratados como pragas domésticas. Me apaixonei pela “gata cinza” e pela “gata preta” e me revoltei por não saber como elas se chamavam, enquanto os gatos machos esbanjavam nomes compostos de realeza. Entre práticas que eu questiono e discordo, como a não castração, um certo especismo anti-viralatas e comentários que pra mim soam absurdos ofensivos como “é só um…

  • Críticas e indicações,  Livros

    A teus pés, Ana Cristina Cesar

    Ao final do ensino médio eu tive meu primeiro contato com a obra da Ana Cristina Cesar (1952-1983), na antologia 26 Poetas Hoje, organizada pela Heloísa Buarque de Hollanda, na qual também constam as poetas marginais da geração mimeógrafo Leila Miccolis, Isabel Câmara, Vera Pedrosa e Zulmira Tavares. Fiquei impactada pelo tom confessional e extremamente íntimo e desprendido dos trechos de diários (semificcionais ou não), especialmente: Acordei com coceira no hímen. No bidê com espelhinho examinei o local. Não surpreendi indícios de moléstia. Meus olhos leigos na certa não percebem que um rouge a mais tem significado a mais. Passei pomada branca até que a pele (rugosa e murcha) ficasse brilhante.…