Críticas e indicações

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    In my room (2020), de Mati Diop

    Assisti a esse curta certeiro da Mati Diop na condição atual de isolamento, praticando a tradução literal do título In my Room (“em meu quarto”), com vozes mentais rodando em minha cabeça. Lembranças confortam a diretora e atriz nesse estudo poético sobre a ausência da avó e a nostalgia dos nossos. Stalker das janelas alheias de milhares de apartamentos, gaveteiros ocupados nesses tempos estranhos, nada lhe apetece na geladeira. Performances glamourosas da ópera “La Traviata” de saltos altos vermelhos e roupas da MiuMiu, luzes neon no chão: a breve festa exibicionista a ajuda um pouco a driblar o tédio, que retorna em seguida e pede uma garrafa no frigobar. Foi uma época…

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    De nuevo otra vez (2019), de Romina Paula

    Na estreia da atriz Romina Paula atrás das câmeras em De nuevo otra vez (2019), a diretora filma seu convívio com a mãe e o filho de 3 anos, em um retorno às raízes para se descobrir também como filha. Neste misto de documentário e ficção, espanhol e alemão, há montagens divertidas e instigantes, quebra da quarta parede e brincadeiras com fotografias antigas. Em pouco tempo, ela confessa sentimentos que fogem do senso comum, como o distanciamento ao olhar alguém de perto, lança questões profundas como “a melancolia é um privilégio da juventude?” e traça linhas tênues entre medo e desejo. O filme foi comentado no nosso podcast sobre a…

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    Take this Waltz

    Margot sente medo de estar entre duas coisas. Com constante senso de perigo, sente medo de sentir medo. As unhas azuis dos pés dela denotam uma fragilidade, uma delicadeza infantil, uma Madame Bovary oculta, uma palhaça triste. Como adulta ela escolhe não sucumbir à melancolia, ainda que pareça perdida e se sinta culpada por ter […]

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    Such Pretty Forks in the Road, de Alanis Morissette

    Acompanho a Alanis mais propriamente desde o Acústico MTV em 1999 (pra ser honesta antes disso só tinha visto videoclipes) e sou muito fã do álbum Supposed Former Infatuation Junkie, do ano anterior. Depois disso tentei ouvir uma coisa ou outra mas parei de acompanhar :/ e tive uma grata surpresa agora com Such Pretty Forks in the Road (2020), nono álbum de estúdio da cantora, lançado em julho depois de um hiato de oito anos! Alanis volta com uma alegria bem vinda – e muito glitter – em tempos tenebrosos, em “Smiling” e “Reasons I Drink” e segue firme passando pela ótima – e mais catártica “Reckoning” – até…

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    Crip Camp: Revolução pela Inclusão

    O documentário Crip Camp: Revolução pela Inclusão (Crip Camp, 2020), dirigido por Nicole Newnham e James Lebrecht, estreou no catálogo da Netflix. A sinopse não dá conta de seu conteúdo: faz parecer que aborda um acampamento de verão nos Estados Unidos para adolescentes com deficiência nos anos 60 e 70. Esse tema por si só já seria interessante, uma vez que, como o próprio doc deixa claro, pessoas com deficiência não tinham direitos garantidos naquela época e a maioria dos jovens tinha pouca convivência fora de casa, porque as escolas públicas raramente os aceitavam. Muitos permaneciam em casa ou institucionalizados. Mas além de abordar o ineditismo do local, em termos pedagógicos e…

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    Frida (2002)

    É difícil analisar o filme Frida (2002), dirigido por Julie Taymor, sem falar sobre seu processo de produção, uma vez que ele está completamente ligado ao resultado final do filme. O filme retrata a história da pintora mexicana Frida Kahlo de quando ela era uma estudante e sofreu um acidente de ônibus que marcou a sua vida, até a sua morte. A figura histórica é interpretada por Salma Hayek, de quem esse era um projeto pessoal, que tentava tirar do papel há muito tempo. Salma Hayek relatou em um texto chamado “Harvey Weinstein is my monster too” (Harvey Weinstein é meu monstro também, em tradução livre), publicado no New York…

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    Lhasa de Sela (1972-2010)

    Nascida em Nova York, filha de um professor mexicano e de uma fotógrafa americana, Lhasa de Sela (1972-2010) teve uma infância bastante nômade e uma vida adulta no Canadá – suas canções em inglês, espanhol e francês refletem essas vivências. A cantora gravou três álbuns de estúdio, La Llorona (1997), The Living Road (2003) e o homônimo Lhasa (2009), lançado meses antes de sua morte aos 37, na virada do ano, após lutar contra um câncer de mama. Estou muito impactada pela “coincidência” que me levou a esse álbum: vou lembrar por um bom tempo do pole dance caseiro e efêmero da Clara Averbuck ao som de ‘Love Came Here’,…

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    MS Slavic 7 (2019)

    Mais uma parceria entre Sofia Bohdanowicz e Deragh Campbell (atriz e co-diretora), o semi ficcional MS Slavic 7 (2019) acompanha a descoberta de correspondências muito poéticas (e reais!) enviadas pela bisavó da cineasta, Zofia Bohdanowiczowa, ao poeta polaco Józef Wittlin entre 1957-1964. Bela e contemplativa percepção de tensões familiares e luta discreta por espaço e direito, além de um estudo inspirado sobre o significado do gênero carta e sua viagem de passarinho para suprir um desejo intenso por comunicação – e conexão, o qual a protagonista vivencia em sua busca solitária. 

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    All Mirrors, de Angel Olsen

    Pra quem não conhece ainda, fica a dica para ouvir o excelente All Mirrors (2019), quarto – e melhor – álbum da cantora, guitarrista e compositora norte americana Angel Olsen. A moça faz juz ao nome com sua voz rouca angelical, mas bem versátil, cítrica em alguns momentos, combinando com o instrumental indie folk orquestrado. Recomendo especialmente as faixas Impasse, Tonight, Summer e Endgame, ato final em que a melancolia e a vibe lynchiana Twin Peaks crescem e atingem o ápice. 

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    Revelação (2020)

    Entre as novidades de streaming dessa semana, está o documentário Revelação (Disclosure: Trans Lives on Screen, 2020), dirigido por Sam Feder. O filme propõe uma análise sobre a forma como pessoas transgênero foram representadas ao longo da história do cinema, do ridículo ou ameaçador chegando ao bem intencionado mas equivocado, passando sempre pelo erro de colocar pessoas cisgênero interpretando a transgeneridade. O panorama resultante dessa recapitulação é bastante desolador. O fio condutor são os depoimentos de pessoas ligadas ao cinema e à televisão como as atrizes Laverne Cox, Jen Richards e Alexandra Billings, a historiadora Susan Stryker e cineastas como Lilly Wachowski e Yance Ford (que, inclusive, é o primeiro diretor transgênero indicado…