Críticas e indicações
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Such Pretty Forks in the Road, de Alanis Morissette
Acompanho a Alanis mais propriamente desde o Acústico MTV em 1999 (pra ser honesta antes disso só tinha visto videoclipes) e sou muito fã do álbum Supposed Former Infatuation Junkie, do ano anterior. Depois disso tentei ouvir uma coisa ou outra mas parei de acompanhar :/ e tive uma grata surpresa agora com Such Pretty Forks in the Road (2020), nono álbum de estúdio da cantora, lançado em julho depois de um hiato de oito anos! Alanis volta com uma alegria bem vinda – e muito glitter – em tempos tenebrosos, em “Smiling” e “Reasons I Drink” e segue firme passando pela ótima – e mais catártica “Reckoning” – até…
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Crip Camp: Revolução pela Inclusão
O documentário Crip Camp: Revolução pela Inclusão (Crip Camp, 2020), dirigido por Nicole Newnham e James Lebrecht, estreou no catálogo da Netflix. A sinopse não dá conta de seu conteúdo: faz parecer que aborda um acampamento de verão nos Estados Unidos para adolescentes com deficiência nos anos 60 e 70. Esse tema por si só já seria interessante, uma vez que, como o próprio doc deixa claro, pessoas com deficiência não tinham direitos garantidos naquela época e a maioria dos jovens tinha pouca convivência fora de casa, porque as escolas públicas raramente os aceitavam. Muitos permaneciam em casa ou institucionalizados. Mas além de abordar o ineditismo do local, em termos pedagógicos e…
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Filmes hollywoodianos com roteiros feitos por mulheres para ver no Telecine
Em 12 anos, nenhuma mulher ganhou prêmio de melhor roteiro na premiação do Oscar. Em 2007, Diablo Cody foi a última a receber a estatueta de melhor roteiro original por Juno, enquanto Diana Ossana ganhou melhor roteiro adaptado por O Segredo de Brokeback Mountain, em 2005. A disparidade de reconhecimento na principal premiação da indústria do cinema reflete também o baixo índice de participação de mulheres roteiristas dentro do mercado cinematográfico de Hollywood. Segundo dados do site Women and Hollywood, mulheres roteiristas integraram a equipe de apenas 20 dos 100 filmes de maior bilheteria lançados em 2019. Para celebrar as profissionais que desempenham tal função, o Feito por Elas garimpou…
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Frida (2002)
É difícil analisar o filme Frida (2002), dirigido por Julie Taymor, sem falar sobre seu processo de produção, uma vez que ele está completamente ligado ao resultado final do filme. O filme retrata a história da pintora mexicana Frida Kahlo de quando ela era uma estudante e sofreu um acidente de ônibus que marcou a sua vida, até a sua morte. A figura histórica é interpretada por Salma Hayek, de quem esse era um projeto pessoal, que tentava tirar do papel há muito tempo. Salma Hayek relatou em um texto chamado “Harvey Weinstein is my monster too” (Harvey Weinstein é meu monstro também, em tradução livre), publicado no New York…
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Lhasa de Sela (1972-2010)
Nascida em Nova York, filha de um professor mexicano e de uma fotógrafa americana, Lhasa de Sela (1972-2010) teve uma infância bastante nômade e uma vida adulta no Canadá – suas canções em inglês, espanhol e francês refletem essas vivências. A cantora gravou três álbuns de estúdio, La Llorona (1997), The Living Road (2003) e o homônimo Lhasa (2009), lançado meses antes de sua morte aos 37, na virada do ano, após lutar contra um câncer de mama. Estou muito impactada pela “coincidência” que me levou a esse álbum: vou lembrar por um bom tempo do pole dance caseiro e efêmero da Clara Averbuck ao som de ‘Love Came Here’,…
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MS Slavic 7 (2019)
Mais uma parceria entre Sofia Bohdanowicz e Deragh Campbell (atriz e co-diretora), o semi ficcional MS Slavic 7 (2019) acompanha a descoberta de correspondências muito poéticas (e reais!) enviadas pela bisavó da cineasta, Zofia Bohdanowiczowa, ao poeta polaco Józef Wittlin entre 1957-1964. Bela e contemplativa percepção de tensões familiares e luta discreta por espaço e direito, além de um estudo inspirado sobre o significado do gênero carta e sua viagem de passarinho para suprir um desejo intenso por comunicação – e conexão, o qual a protagonista vivencia em sua busca solitária.
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All Mirrors, de Angel Olsen
Pra quem não conhece ainda, fica a dica para ouvir o excelente All Mirrors (2019), quarto – e melhor – álbum da cantora, guitarrista e compositora norte americana Angel Olsen. A moça faz juz ao nome com sua voz rouca angelical, mas bem versátil, cítrica em alguns momentos, combinando com o instrumental indie folk orquestrado. Recomendo especialmente as faixas Impasse, Tonight, Summer e Endgame, ato final em que a melancolia e a vibe lynchiana Twin Peaks crescem e atingem o ápice.
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Revelação (2020)
Entre as novidades de streaming dessa semana, está o documentário Revelação (Disclosure: Trans Lives on Screen, 2020), dirigido por Sam Feder. O filme propõe uma análise sobre a forma como pessoas transgênero foram representadas ao longo da história do cinema, do ridículo ou ameaçador chegando ao bem intencionado mas equivocado, passando sempre pelo erro de colocar pessoas cisgênero interpretando a transgeneridade. O panorama resultante dessa recapitulação é bastante desolador. O fio condutor são os depoimentos de pessoas ligadas ao cinema e à televisão como as atrizes Laverne Cox, Jen Richards e Alexandra Billings, a historiadora Susan Stryker e cineastas como Lilly Wachowski e Yance Ford (que, inclusive, é o primeiro diretor transgênero indicado…
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As Horas (The Hours, 2003)
[AVISO DE GATILHO: CONTEÚDO SENSÍVEL]Essa não é uma crítica. Transcrição da minha fala do Feito por Elas #114 As Horas publicada originalmente no Letterboxd. Eu localizei no meu diário quando vi As Horas no cinema, em 6 de março de 2003. O ingresso de estudante custava R$ 2,50 e eu anotei: “Muito poético. Demais o jeito que as 3 histórias paralelas se interligam subjetivamente. Meu candidato para melhor filme no Oscar”. Eu lembro de ter chorado desesperadamente. Eu não tinha lido nada da Virginia Woolf na época, mas a identificação foi enorme. Eu fui atrás de ler o livro As Horas e de ler Mrs. Dalloway. Eu já não morava…
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Olla, de Ariane Labed
Com clara influência do longa Jeanne Dielman, 23, Quai du Commerce, 1080 Bruxelles (1975), da diretora Chantal Akerman, Olla (2019) é a estreia bem sucedida da atriz francesa Ariane Labed (A Lagosta) atrás das câmeras. O trocadilho com o nome que ela recebe ao chegar, ao menos no Brasil permite uma associação erótica, uma das facetas bem trabalhadas na protagonista Olla (Romanna Lobach), que deixa a Ucrânia e vai para a França morar com Pierre, que ela conheceu pela internet e que vive com a mãe idosa. O curta de 27 minutos não brinca apenas com as discrepâncias da linguagem, mas com expectativas masculinas, direitos e desejos femininos, tantas vezes agredidos e silenciados. Destaque para…